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Marcelo defende MAI e pede tempo para refletir sobre fogos, mas bombeira denuncia repetição de erros: “Portugal continua a arder”

O Presidente da República reconheceu esta terça-feira que é necessário repensar a forma como Portugal combate os incêndios florestais, mas defendeu que “ainda não é o tempo” para iniciar essa reflexão. Já no terreno, uma bombeira acusou as autoridades de falta de prevenção e denunciou que, “ano após ano, tudo se repete”, enquanto milhares de operacionais continuam a enfrentar dezenas de fogos ativos no Centro e Norte do país

Marcelo pede prudência no debate sobre incêndios

À saída do funeral de Carlos Dâmaso, antigo autarca de Vila Franca do Deão que morreu na sexta-feira durante o combate às chamas, Marcelo Rebelo de Sousa prestou homenagem à vítima e destacou o “espírito solidário” do povo português. Ainda assim, aproveitou para sublinhar que o combate aos fogos florestais “precisa de mudanças e melhorias”.

“Penso que estamos todos de acordo que, terminada esta época, é evidente que há reflexões a fazer. É fundamental encontrar um sistema que permita integrar as lições aprendidas no combate aos incêndios”, afirmou o chefe de Estado. Contudo, acrescentou que “não é este o tempo ainda” para implementar novas medidas, lembrando que a prioridade imediata deve continuar a ser salvar vidas, proteger habitações e travar a propagação das chamas.

Defesa da ministra da Administração Interna

Questionado sobre a atuação do Governo e em particular da ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral — no cargo há apenas dois meses e alvo de críticas pela falta de respostas claras à população — Marcelo defendeu a governante.

“Admito que uma pessoa que chegou há dois meses esteja a descobrir os problemas e as respostas a dar”, disse, sublinhando que também ele, no início do mandato, passou por uma curva de aprendizagem. O Presidente admitiu, no entanto, que “é natural que as pessoas queiram respostas imediatas” em momentos de crise.

Marcelo fez ainda uma reflexão pessoal, afirmando que “as coisas mais dolorosas” dos seus mandatos foram precisamente “os fogos e a pandemia”, situações que colocaram Portugal perante desafios humanos e sociais de grande dimensão.

Voz dos bombeiros: crítica dura e direta

Em contraste com a prudência presidencial, a bombeira Alexandra Almeida, candidata a vice-presidente da Câmara de Alpiarça, lançou nas redes sociais uma mensagem dura contra a gestão da floresta e a resposta das autoridades.

Marcelo  defende MAI e pede tempo para refletir sobre fogos, mas bombeira denuncia repetição de erros: “Portugal continua a arder”
Foto: © Facebook / Alexandra Almeida

Segundo contou, combateu durante “mais de 24 horas” as chamas em Piódão e na Covilhã, enfrentando cansaço extremo e condições perigosas. “Arde floresta, ardem memórias, ardem vidas de quem sempre cuidou da terra”, desabafou.

A bombeira acusou a falta de planeamento e a ausência de prevenção: “Ano após ano, tudo se repete. Somos bombeiros a correr atrás do prejuízo, sempre a remendar o que nunca foi prevenido. Pedrógão foi há oito anos. Prometeram-nos mudanças. Onde estão? Nada mudou.”

A publicação, que já soma milhares de partilhas, vai mais longe, acusando interesses privados de se aproveitarem das tragédias: “A terra arde e logo a seguir surgem interesses no lítio, nos parques solares, nas minas. Deixa-se arder e depois entrega-se ao privado.”

Alexandra denuncia ainda a desvalorização dos bombeiros: “Chamam-nos heróis quando tudo arde, mas quando o fogo se apaga voltamos a ser esquecidos. Recebemos um valor hora miserável, longe do que passamos em cada teatro de operações.”

 

Portugal enfrenta neste mês de agosto uma das piores vagas de incêndios da última década. Só nesta terça-feira, mais de 2.700 bombeiros, apoiados por quase 900 veículos e 35 meios aéreos, estão em combate a dezenas de frentes ativas, sobretudo nas regiões Centro e Norte.

Um dos fogos mais preocupantes lavra em Trancoso, distrito da Guarda, obrigando à evacuação de moradores e ao corte de estradas. O Governo decidiu prolongar o estado de alerta, numa tentativa de reforçar os meios disponíveis e coordenar respostas de emergência.

De acordo com dados oficiais, já arderam este ano mais de 216 mil hectares de floresta e mato, o equivalente a mais de 2% do território nacional. Para além dos prejuízos ambientais e materiais, contabilizam-se duas mortes diretas relacionadas com o combate: a de Carlos Dâmaso e a de um bombeiro que perdeu a vida num acidente de viação a caminho de um incêndio.

Entre a prudência e a urgência

Enquanto o Presidente da República insiste que a reflexão sobre os fogos deve ser feita no final da época crítica, os bombeiros pedem mudanças imediatas e estruturais. O contraste entre os apelos institucionais à calma e a revolta de quem combate diariamente as chamas traduz a tensão de um país que, em pleno verão, continua a enfrentar uma tragédia repetida: milhares de hectares destruídos, comunidades em risco e operacionais exaustos.

A prudência presidencial e a revolta no terreno resumem a encruzilhada nacional: agir já ou esperar pelo balanço final da época de fogos? Para a bombeira Alexandra Almeida, a resposta é clara — “enquanto Portugal continuar a varrer as cinzas para debaixo do tapete, o país vai continuar a arder”.

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