O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou a abordar um problema persistente no setor da comunicação social, alertando para a situação em que a culpa “morre solteira”, uma expressão que já havia utilizado no ano passado. O chefe de Estado teceu críticas sobre a falta de responsabilização nas empresas de comunicação social, destacando a indefinição nas condições de trabalho, a qualidade dos conteúdos produzidos e os impactos negativos nas vidas de muitos jornalistas e suas famílias. Estas observações foram feitas durante a cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2023, realizada no Grémio Literário, em Lisboa
Marcelo, ao repetir a crítica de 2024, mencionou que, enquanto no ano anterior a situação foi marcada por problemas no Global Media Group, este ano os protagonistas são outros, como a Visão, mas com consequências semelhantes. O Presidente fez questão de destacar que, nas situações mencionadas, “ninguém é responsável”, seja o proprietário, o gestor ou os financiadores, sendo a responsabilidade de todos desresponsabilizada, e, como resultado, a culpa não é atribuída a ninguém. Esta falta de responsabilização é uma questão central que Marcelo enfatizou, sinalizando um problema estrutural no jornalismo português.
Em sua intervenção, Marcelo também afirmou que espera melhores notícias para o jornalismo em 2025, sublinhando a importância do trabalho dos jornalistas e do papel vital que a liberdade de imprensa desempenha na democracia. Ele reiterou a sua crença inabalável na liberdade de imprensa como um pilar da sociedade democrática, uma convicção que manteve antes e depois de se tornar Presidente da República. “A democracia, tal como a liberdade de imprensa, vencerão”, afirmou, com otimismo sobre o futuro do jornalismo em Portugal.
Na cerimónia, além de destacar as questões profissionais que afetam os jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa prestou homenagem a Maria Antónia Palla, premiada com a Gazeta de Mérito. O Presidente realçou a sua carreira exemplar, que inclui uma luta pela defesa dos direitos das mulheres e a sua atuação como jornalista em diversos meios de comunicação, como o Diário Popular, RTP, Diário de Notícias, entre outros. Também fez questão de anunciar que Maria Antónia Palla será condecorada em breve com o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade, considerando-a um exemplo de caráter e ética.
Durante o evento, o Presidente foi confrontado pela jornalista Marta Vidal, que o acusou, juntamente com o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa, de se manterem em silêncio diante da situação em Gaza e da alegada “aniquilação de um povo e de um território” por parte de Israel. Em resposta, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, embora Portugal não tenha ainda reconhecido o Estado da Palestina, continua a apoiar a solução de dois povos e dois Estados, a qual é a posição da comunidade internacional. Destacou também o apoio de Portugal nas resoluções da Assembleia Geral da ONU, condenando os atentados contra os direitos humanos em Gaza.
Marcelo concluiu o evento com um elogio a Maria Antónia Palla, mencionando a sua condecoração anterior pela Ordem da Liberdade e criticando a discriminação entre os Capitães de Abril homens e as mulheres que também lutaram pela liberdade. Ele anunciou que Maria Antónia Palla será condecorada com a mesma distinção atribuída aos Capitães de Abril, em reconhecimento pelo seu contributo à democracia e à liberdade em Portugal.
Os Prémios Gazeta, uma iniciativa do Clube de Jornalistas, têm o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e reconhecem a excelência no jornalismo em várias categorias.
