A líder da oposição venezuelana foi distinguida pelo Comité Nobel norueguês pelo seu “trabalho incansável na defesa da democracia e dos direitos humanos”. É a primeira venezuelana a receber o galardão
O Prémio Nobel da Paz 2025 foi atribuído, esta sexta-feira, à líder da oposição da Venezuela, María Corina Machado, reconhecida pelo seu papel na defesa pacífica da democracia num país mergulhado em crise política, económica e humanitária. O Comité Nobel destacou a “coragem civil extraordinária” da laureada e a sua “luta incansável por uma transição justa e pacífica” do regime de Nicolás Maduro para a democracia.
“Foi uma escolha de votos em vez de balas”, referiu o Comité, citando uma declaração de Machado. “É uma mulher que mantém acesa a chama da democracia no meio de uma escuridão crescente.”
A distinção, que apanha de surpresa o cenário político internacional, faz de María Corina Machado a primeira venezuelana e uma das poucas latino-americanas a conquistar o mais prestigiado prémio da paz mundial.
“É emocionante”, diz laureada
Segundo o secretário do Comité Nobel, Kristian Berg Harpviken, que falou com a vencedora por telefone, Machado reagiu com emoção ao anúncio. “Ela disse que era emocionante e que este era um prémio para todo um movimento, o movimento na Venezuela que lutou pela democracia”, relatou Harpviken à agência Reuters.
Num vídeo divulgado à AFP, a opositora afirmou estar “em choque” e dedicou o prémio “a todos os venezuelanos que continuam a resistir”.
A líder da oposição, de 58 anos, foi deputada entre 2011 e 2014 e fundou, em 2002, a organização não-governamental Súmate, dedicada à defesa de eleições livres e justas. Em 2024, foi impedida pelos tribunais venezuelanos de concorrer à presidência, num processo amplamente criticado por observadores internacionais.
Em janeiro deste ano, foi brevemente sequestrada por agentes do regime chavista, em Caracas, episódio que reforçou o seu simbolismo como rosto da resistência democrática. “Estou num lugar seguro e com mais determinação do que nunca para continuar convosco até ao final”, afirmou na altura.
“Coragem civil num tempo de ameaça à democracia”
O Comité Nobel descreveu a situação venezuelana como “a passagem de um país relativamente democrático e próspero para um Estado brutal e autoritário”. Sublinhou ainda que Machado tem sido “uma figura unificadora numa oposição política antes profundamente dividida”, capaz de reunir forças em torno de uma exigência comum: eleições livres e governo representativo.
“É precisamente isso que está no cerne da democracia: a nossa vontade comum de defender os princípios do governo popular, mesmo que discordemos. Numa época em que a democracia está ameaçada, é mais importante do que nunca defender esse terreno comum”, declarou o presidente do Comité Nobel, Jørgen Watne Frydnes.
O prémio, segundo o Comité, pretende também enviar uma mensagem global contra regimes autocráticos, independentemente da sua orientação política.
Trump fora da corrida
Entre os nomes mais mencionados nas apostas para o Nobel da Paz deste ano estava o de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, que chegou a reivindicar o prémio nas suas redes sociais, apoiado por líderes como Benjamin Netanyahu e Volodymyr Zelensky.
Contudo, o Comité norueguês afastou essa possibilidade, sublinhando que “Machado cumpre os três critérios do testamento de Alfred Nobel” e que o prémio distingue “um trabalho de paz duradouro, não conquistas rápidas e estridentes”.
O prémio e a cerimónia
Criado pelo testamento de Alfred Nobel, o prémio é atribuído desde 1901 a pessoas ou organizações que tenham promovido “a fraternidade entre as nações e a redução dos exércitos permanentes”. O galardão inclui 11 milhões de coroas suecas (cerca de um milhão de euros), além de um diploma e de uma medalha de ouro.
A cerimónia oficial de entrega do Prémio Nobel da Paz 2025 terá lugar a 10 de dezembro, em Oslo, Noruega — no aniversário da morte de Alfred Nobel. Ainda não é certo se María Corina Machado conseguirá estar presente.
Em 2024, o prémio foi atribuído à organização japonesa Nihon Hidankyo, que apoia os sobreviventes das bombas atómicas lançadas sobre Hiroxima e Nagasáqui.