A Direção-Geral da Saúde (DGS) alerta para o aumento de casos de sarampo em Portugal: desde janeiro de 2025, foram confirmados 14 casos, dos quais oito em pessoas não vacinadas, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo. As autoridades apontam a hesitação vacinal e a importação de casos como causas principais
Desde o início de 2025, registaram-se 14 casos de sarampo em Portugal — um na região Centro e 13 em Lisboa e Vale do Tejo. Oito dos infetados não tinham vacinação prévia. Em 2024, após dois anos sem registo de casos, notificaram-se 35 infeções confirmadas, sinalizando o regresso da doença ao país. “A Direção-Geral da Saúde está atenta à crescente hesitação vacinal que se verifica em vários países e que pode contribuir para o ressurgimento de doenças evitáveis como o sarampo”, sublinha o organismo. “Existe um risco elevado de termos casos importados. Mas o mais importante é destacar as boas coberturas vacinais em Portugal. O vírus pode entrar, mas não se propaga”, declarou Rita Sá Machado, diretora-geral da Saúde, em entrevista à RTP.
Causas do surto
O surto em Portugal insere-se num contexto europeu preocupante: em 2024, o continente registou o maior número de casos de sarampo dos últimos 25 anos, com uma subida quase dez vezes superior à de 2023, fruto do declínio das taxas de vacinação em vários países. Em Portugal, grande parte das infeções são importadas ou ligadas a casos importados, refletindo a mobilidade internacional e a presença de comunidades com cobertura vacinal inferior aos 95 porcento, recomendados pela Organização Mundial da Saúde. O sarampo é uma das doenças virais mais contagiosas, transmitida pelo ar através de gotículas e aerossóis, o que facilita a propagação em grupos não imunizados.
A vacina tríplice vírica (sarampo, papeira e rubéola) integra o Programa Nacional de Vacinação. São recomendadas duas doses para crianças e adultos nascidos após 1970: a primeira aos 12 meses, a segunda aos cinco anos. “Vacinar não é apenas um ato de proteção individual, é um dever cívico”, afirmou Rita Sá Machado durante a Semana Europeia da Vacinação 2024, em Arronches. A diretora-geral reforçou ainda: “Temos de garantir que a vacinação ocorre nos prazos corretos. Se está previsto vacinar ao ano de idade, não se deve adiar para os 15 meses.”
Resistência vacinal entre pais e tutores
Estudos nacionais apontam quatro principais razões para a não vacinação: a perceção de que “não é prioritário”, receios relativamente à segurança, recomendações médicas e o “medo de efeitos secundários”. Movimentos antivacinas e a propagação de desinformação nas redes sociais alimentam receios infundados — como a falsa ligação entre vacinas e autismo — e contribuem para o adiamento ou recusa da imunização infantil.
Este fenómeno fragiliza a imunidade de grupo e cria brechas que o vírus pode explorar. A decisão de não vacinar uma criança não afeta apenas essa criança — coloca em risco toda a comunidade, especialmente os imunodeprimidos e os bebés ainda não elegíveis para vacinação. Se a cobertura vacinal continuar abaixo dos níveis ideais, Portugal poderá enfrentar surtos mais graves, como os de anos anteriores.
O reforço das campanhas de sensibilização, aliado à educação para a saúde e à manutenção de taxas de vacinação elevadas, é essencial para evitar o regresso de uma doença que já havia sido eliminada no país.