Paulo Rangel, Ministro dos Negócios Estrangeiros, está sob fogo cerrado dos emigrantes portugueses. O seu escolhido (ou imposto) Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Emídio Sousa, começou mal, dizendo que os emigrantes em França são “os verdadeiros”.
Em declarações à Lusa, afirmou: «A minha primeira saída oficial tinha de ser necessariamente a França, porque é aqui que estão verdadeiramente os portugueses. Conheço as suas dificuldades, sei o que eles pensam e sei o amor que eles têm a Portugal, mesmo quando ficam cá, e muitas vezes vivem cá todo o tempo, aquele amor a Portugal é único. Por isso, eu tinha de começar por aqui», revelou Emídio Sousa.
O Ministro Paulo Rangel ficou logo com as orelhas a arder, por causa desta frase. A crítica não veio de fora, mas sim do núcleo do PSD em Estugarda, Alemanha. Sem medo e com a pontaria afinada, o PSD na Alemanha dispara sobre Rangel: «Triste a escolha de um secretário de um Estado que representa cinco milhões de VERDADEIROS PORTUGUESES na Diáspora (E NÃO SÓ EM FRANÇA). É este o resultado quando postos políticos são atribuídos por cunhas e não por competências. Parabéns, Dr. Rangel.», escrevem os administradores do grupo PSD Estugarda no Facebook, à vista de todos.
Mesmo com centenas de comentários a arrasar o “ajudante” de Paulo Rangel — como lhe chamaria o antigo Primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva —, Emídio Sousa não deixa de espantar com mais uma frase digna de discurso entusiasmado. Justifica-se: «Eu conheço muito esta realidade. Enquanto estudante, vim cá à França muitos meses, naqueles trabalhos de férias. Para mim não é novidade, e é um orgulho. Comecei precisamente por França e por Paris, porque tenho a certeza de que hoje tem uma comunidade, portugueses e lusodescendentes, muito significativa. Falamos só em Paris de um milhão de pessoas. Portanto, a maior cidade portuguesa é Paris», reiterou em público.
Suíça, Brasil e Qatar também reagem mal
Mas a desgraçada frase do ajudante de Paulo Rangel não caiu bem em muitos lugares do mundo, onde os portugueses estão presentes e interventivos. Marina Prévost-Mürier, presidente da importante organização “Câmara de Comércio, Indústria e Serviços Suíço- Portuguesa”, desabafou imediatamente sobre os “portugueses de primeira em França”, como o caso está a ser apodado. Prévost-Mürier ataca: «Comentário infeliz de um governante, em que discrimina os outros Portugueses na Diáspora». A relevante empresária, que cria laços essenciais entre a Suíça e Portugal, não entende a causa de tal diferenciação.
Já no Brasil, a empresária portuguesa Ana Paula Oliveira destaca a «total falta de cuidado e lealdade» do Secretário de Estado de Paulo Rangel. «No Brasil somos muitos portugueses e aqui fala-se português. Assinei uma carta a pedir que o anterior responsável fosse reconduzido, mas sem efeitos práticos. Temo que este PSD não oiça nem os portugueses espalhados pelo mundo, nem sequer o próprio partido. Algo deve existir para que isso esteja a acontecer», suspeita Ana Paula, 46 anos, residente no Rio de Janeiro, ao OREGIÕES.
O abaixo-assinado existiu mesmo
A verdade é que até Luís Montenegro parece de orelhas moucas. Correu um abaixo-assinado para que o experiente José Cesário, que já ocupou o cargo, fosse nomeado de novo, e não uma pessoa sem experiência na área. O texto, a que OREGIÕES teve acesso, era claro.
Lia-se: «Ao Senhor Primeiro-Ministro de Portugal, Dr. Luís Montenegro, Nós, representantes e membros das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, manifestamos, com profundo pesar e indignação, a nossa total discordância quanto à decisão de não reconduzir o Dr. José Cesário ao cargo de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. José Cesário não foi apenas um Secretário de Estado. Foi, para muitos de nós, a voz firme, experiente e presente do Estado português junto das suas comunidades no exterior. Com um conhecimento raro da realidade da emigração portuguesa, aliado a uma dedicação constante e humana, sempre esteve próximo das preocupações reais dos portugueses no estrangeiro — fosse em situações de emergência consular, apoio social, reforço da rede consular, incentivo ao ensino da língua portuguesa ou na valorização dos funcionários da rede diplomática e consular espalhados pelo mundo. A decisão de afastá-lo deste cargo, sem uma explicação clara à altura do serviço prestado, representa para muitos de nós um retrocesso institucional e um desrespeito ao trabalho construído com tanto esforço ao longo dos anos. Consideramos esta decisão um erro político e estratégico, que poderá fragilizar a ponte entre Portugal e os seus cidadãos fora do território nacional — num momento em que essa ligação é mais importante do que nunca», sustenta parte do texto.
O abaixo-assinado, divulgado por centenas de portugueses na Internet — como Armando Torrão, um dos mais atentos líderes das comunidades — ainda entrou pela janela, mas bateu contra a parede. Fonte próxima do processo afirma que Montenegro ainda chegou a falar com o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros sobre o caso. Mas, infelizmente, Rangel não queria um jogo de sombras dentro do ministério. «Tinha medo de que Cesário fosse mais competente do que ele e fez finca-pé», escutou OREGIÕES de fonte própria. «Parecia uma birra», adianta a mesma pessoa.
Agora, o ex-Secretário de Estado José Cesário vai presidir à Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, na Assembleia da República. Em suma, o seu papel será o de ser a sombra fiscalizadora de Paulo Rangel e do seu gabinete. Corre em Lisboa que Rangel não gostou mesmo nada da nomeação, apesar da guerra aberta e de trincheiras que se vai vivendo dentro do seu Ministério.
QUEM É EMIDIO SOUSA
É um Gestor Público, Mestre em Administração Pública pela Universidade Católica do Porto e sempre ligado ao aparelho partidário do PSD. Foi Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira (2013–2024), onde liderou por mais de uma década. Foi ainda Secretário de Estado do Ambiente no governo anterior, sob a tutela da ministra Maria da Graça Carvalho. Deputado eleito pelo círculo de Aveiro em 2024, cargo que deixou para assumir funções governativas. Presidente da Distrital do PSD de Aveiro, desempenhando papel-chave na organização partidária local.
E ainda: Secretário Geral na Empresa Águas de Gaia, EM (Até 2005); Vice-Presidente e Vereador na Câmara Municipal de santa Maria da Feira – Portugal (Desde Novembro de 2005 até Outubro de 2013);
){kind=link}