O presidente da Câmara de Lisboa relacionou a greve dos trabalhadores da higiene urbana com “interesses partidários”. Não mencionou, contudo, quais os partidos interessados, direcionando essa questão aos sindicatos. Também antecipou que 2025 será “um ano difícil”. Para Moedas, que considerava que tinha os trabalhadores da higiene urbana “controlados”, esta foi “uma greve injusta” e apelou aos sindicatos dos trabalhadores da higiene urbana para que haja disponibilidade para negociar com a câmara
O presidente da Câmara de Lisboa relacionou a greve dos trabalhadores da higiene urbana com “interesses partidários”. Para Carlos Moedas, esta greve acontecer nesta altura, “a um ano das eleições” autárquicas, que irão ocorrer entre setembro e outubro deste ano, “é um tema político”, justificando essa posição com a recusa dos sindicados em negociar.
Faço um apelo à responsabilidade, porque o ano de 2025 vai ser um ano difícil e é um ano em que vamos certamente diferenciar aqueles que põem à frente os interesses dos lisboetas, mas sobretudo o interesse dos trabalhadores, e não os interesses partidários, nem os interesses sindicais”, afirmou esta sexta-feira Carlos Moedas (PSD), numa conferência de imprensa nos Paços do Concelho para balanço da greve dos trabalhadores da higiene urbana.
Questionado sobre quais os partidos interessados na greve dos trabalhadores da higiene urbana, o autarca do PSD remeteu a questão para os sindicatos, afirmando que como presidente da câmara está “acima dos partidos”: “Nunca pensei em interesses partidários. Nunca o fiz como presidente da câmara”.
A cidade de Lisboa conseguiu “atenuar muito mais” do que se esperava os efeitos da greve dos trabalhadores da higiene urbana entre o Natal e o Ano Novo, afirmou, sublinhando que foram dias “muito difíceis”.
“Penso que, apesar da dificuldade, mostrámos que estávamos preparados como cidade”, disse o presidente da Câmara de Lisboa.
Carlos Moedas começou por agradecer a todos os que colaboraram para atenuar os efeitos desta greve, nomeadamente os lisboetas, os grandes produtores de lixo como a hotelaria, o comércio e a restauração, os presidentes de juntas de freguesias, a equipa de gestão de crise e os trabalhadores da higiene urbana que estiveram ao serviço durante este período.
“Acho que conseguimos atenuar muito mais do que todos estavam à espera, pelo trabalho da equipa de crise, pelo trabalho das juntas de freguesia, por tudo isso”, declarou o autarca, referindo que já se previa que os efeitos desta greve iam durar vários dias, uma vez que a cidade de Lisboa recolhe diariamente cerca de 900 toneladas de lixo.
Ano difícil
“Faço um apelo à responsabilidade, porque o ano de 2025 vai ser um ano difícil e é um ano em que vamos certamente diferenciar aqueles que põem à frente os interesses dos lisboetas, mas sobretudo o interesse dos trabalhadores, e não os interesses partidários, nem os interesses sindicais”, afirmou Carlos Moedas, durante a conferência de imprensa nos Paços do Concelho.
“Se os sindicatos recusaram negociar e disseram que não havia possibilidade de negociação, a minha pergunta é para os sindicatos: Porque é que o fizeram? Qual é o interesse? É um interesse partidário? É um interesse diferente? Eles é que têm de responder a essa pergunta, mas eu penso que é uma pergunta legítima e muito importante para eles”, declarou.
“É necessário estarmos todos conscientes que hoje temos de fazer política acima dos partidos, temos de fazer política para as pessoas e isso é importantíssimo. Eu estarei sempre pronto a negociar”, reforçou o social-democrata.
“Efeitos ainda não acabaram”
Apelando à paciência dos lisboetas, o presidente da câmara reforçou que “os efeitos da greve ainda não acabaram” e perspetivou que a situação deverá estar resolvida “nos próximos quatro dias”.
Sobre a participação dos trabalhadores nesta greve, Carlos Moedas disse que, à exceção da noite de 1 para 2 de janeiro, a taxa de adesão foi “sempre inferior aos 50%”, indicando que no dia 26 de dezembro foi de 48,1%, no dia 27 foi de 44,6%, no dia 28 foi de 34,5% e no dia 29 foi de 22,8%.
A maior adesão à greve foi registada na noite de 1 para 2 de janeiro, com 53% de participação, indicou o autarca, rejeitando qualquer relação entre os números de adesão e os baixos salários destes trabalhadores.
Para o presidente da câmara, os números sobre a adesão à greve refletem “muito bem o reconhecimento do trabalho” deste executivo municipal em responder às reivindicações dos trabalhadores da higiene urbana, inclusive o acordo celebrado em junho de 2023 com os sindicatos.
Greve injusta
Carlos Moedas reiterou que esse acordo está executado em 80% e está a ser cumprido todos os dias, informação de que os sindicatos dos trabalhadores da higiene urbana discordam.
Reiterando a ideia de que esta foi “uma greve injusta”, Carlos Moedas apelou aos sindicatos dos trabalhadores da higiene urbana para que haja disponibilidade para dialogar e negociar com a câmara municipal.
Em causa está a greve dos trabalhadores da higiene urbana em Lisboa, entre o Natal e o Ano Novo, que foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) e pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) devido à ausência de respostas do executivo municipal aos problemas que afetam o setor, em particular o cumprimento do acordo celebrado em 2023, que prevê, por exemplo, obras e intervenções nas instalações.
Serviços mínimos
A greve foi geral nos dias 26 e 27 de dezembro e contou com serviços mínimos entre 26 e 28 de dezembro, com a realização de 71 circuitos diários de recolha de lixo, envolvendo 167 trabalhadores.
Paralelamente, houve também greve ao trabalho extraordinário, que se iniciou em 25 dezembro e se prolongou até terça-feira (dia 31 de dezembro), e uma paralisação no dia de Ano Novo, prevista apenas no período noturno, ao trabalho normal e suplementar, entre as 22h00 de quarta-feira e as 06h00 de quinta-feira.