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Moedas tem razão: ministério de Jorge Coelho sabia de Entre-os-Rios e já tinha encontrado solução

O Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, do PSD, afirmou que não se demitia depois da tragédia que vitimou 16 pessoas, na queda do Elevador da Glória, na Quarta-feira, dia três de Setembro

Em entrevistas às televisões SIC e TVI, Carlos Moedas sustenta que não se demite do cargo porque não teve conhecimento nenhum dos perigos e riscos da manutenção e segurança do funicular que liga a Praça dos Restauradores ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa.

Confrontado com a decisão de o ministro socialista Jorge Coelho se ter demitido depois da queda da ponte Hintze Ribeiro, o actual presidente da Câmara de Lisboa defende-se. Moedas afirma que Jorge Coelho (entretanto falecido) tinha conhecimento do estado daquela Ponte, ao contrário do edil lisboeta, que desconhecia os perigos dos elevadores funiculares.

Recorde-se que a queda da ponte foi um desastre ocorrido na noite de 4 de Março de 2001, com o colapso do tabuleiro que fazia a ligação sobre o Rio Douro entre as localidades de Castelo de Paiva e Entre-os-Rios, que resultou na morte de 59 pessoas.

Tecnicamente, é verdade

Moedas tem razão no que diz. ORegiões consultou os arquivos da imprensa, da época, encontrou no diário “Público” um artigo que claramente sustenta: «O ministro Jorge Coelho tinha visitado há um ano (2000) a referida ponte, tendo decidido a construção de uma nova ponte, ao constatar que a antiga, com mais de 100 anos, apresentava alguma degradação ao nível do tabuleiro». Para mais, soube-se depois, havia relatórios dentro do ministério de Estado e do Equipamento Social, que tutelava, onde existiam queixas do então presidente da Câmara de Entre-os-Rios e até documentação sobre o perigo da ponte. 

Por essa razão, e entre as 23h00 e as 02h50 do dia seguinte, Jorge Coelho exigiu saber sobre se havia ou não documentação no seu ministério, que claramente não lhe chegou, mas que provava que o ministério estava avisado. A mesma informação foi confirmada pelo então edil de Entre-os-Rios, «farto de mandar cartas a todas as entidades e ao ministério», lamentava-se na madrugada do acidente.

Madrugada afora

Nesse dia, repórteres de oRegiões, ao serviço de outros órgãos de comunicação social, estavam presentes na conferência de imprensa, dada pouco depois das três horas da madrugada, onde Jorge Coelho anunciava a sua demissão.

«A culpa não pode morrer solteira. Nesse sentido têm que se tirar as consequências políticas», afirmou então o ministro de Estado e do Equipamento Social numa das mais tardias e concorridas conferências de imprensa de sempre. «Não ficaria bem com a minha consciência se continuasse» disse ainda Jorge Coelho, explicando que como o era o mais alto responsável do ministério, impunha-se que apresentasse a demissão.

O ministro explicou também que tinha visitado a ponte e verificou, à época, a degradação do tabuleiro, tendo por isso tomado a decisão de construir uma nova ligação orçamentada em três milhões de contos.

Jorge Coelho apresentou ainda condolências em seu nome e do Governo aos familiares das vítimas.

Guterres forçado a aceitar

O então primeiro-ministro, António Guterres, considerou «irrecusável» o pedido de demissão do ministro de Estado e do Equipamento Social, devido ao acidente na ponte de Entre-os-Rios. E afirmou: «É uma atitude de invulgar dignidade de quem seguramente está isento de qualquer responsabilidade pessoal pelos trágicos acontecimentos que enlutam o país».

A decisão de Jorge Coelho é usada várias vezes, na vida política, para ser “exemplo de verticalidade ética e política”, até pelos adversários.

À época, Coelho era o mais importante ministro de António Guterres, o mais sagaz quer como decisor, quer como estratega. Anos depois, à conversa com repórteres que hoje fazem parte da redacção de oRegiões, Coelho ainda carregava a mágoa do que aconteceu. Era comum suspirar uma frase centida: «Se ao menos a minha decisão pudesse trazer de volta à vida as vítimas…».

Jorge Coelho é hoje uma personalidade política altamente respeitada em Portugal, pelas várias áreas políticas e a nobreza do seu acto ficou marcada na História da democracia portuguesa.

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