O terceiro dia dos partidos na estrada promete ficar marcado pela presença dos antigos líderes do PSD num almoço de aniversário do partido. Eram 9 à mesa e a conversa correu “muito bem”, garantiram no final alguns dos ex-líderes do PSD que estiveram esta tarde na sede da São Caetano à Lapa. Cavaco Silva sentado à direita de Luís Montenegro, Rui Rio à esquerda num almoço para celebrar os 51 anos do partido
Passos Coelho e Rui Rio foram dos que deixaram as animosidades de lado para participar no “almoço de família” com que Luís Montenegro quis assinalar os 51 anos do PSD e que, segundo o actual líder social-democrata, decorreu “sem polémicas”. Luís Montenegro garante que não ouviu de Pedro Passos Coelho qualquer recado quando este afirmou, à chegada, que a estabilidade política não basta e que é preciso espírito reformista nas lideranças dos projetos políticos.
Luís Montenegro, que recebeu os antigos líderes à entrada da sede nacional do partido, esclareceu que Francisco Pinto Balsemão e Rui Machete não estiveram presentes por motivos de saúde. Marcelo Rebelo de Sousa considerou que, como Presidente da República, não deveria “ter uma participação partidária numa altura em que estamos em campanha eleitoral”. Durão Barroso também não esteve presente no almoço devido a compromissos profissionais fora de Portugal, mas enviou uma mensagem a Montenegro: “Quero aproveitar esta ocasião, dada a proximidade com as eleições legislativas, para lhe enviar esta mensagem de apoio e amizade e de melhores votos para esse tão importante acontecimento político”, afirmou.
À entrada para o almoço que juntou os anteriores líderes do PSD no dia em que o partido celebra os 51 anos, Rui Rio foi questionado se a sua presença nesta iniciativa é um sinal de apoio ao seu sucessor e se pôs de lado eventuais divergências com o primeiro-ministro, Luís Montenegro. “Não é pôr de lado, nem deixar de pôr de lado, estamos todos unidos, penso eu, na comemoração destes 50 anos”, respondeu.
Depois, o líder do PSD entre 2018 e 2022 deixou um recado implícito ao Chega, que tem pedido uma oportunidade de fazer diferente da governação das últimas cinco décadas. “Numa altura em que eu tenho ouvido que os partidos tradicionais, entre os quais naturalmente o PSD, falharam nestes 50 anos e é preciso dar novas oportunidades porque foi um falhanço… Os 50 anos não foram um falhanço, Portugal hoje, em 2025, não tem comparação com o que era em 1974”, defendeu.
O antigo autarca do PSD salientou que “grande parte desse trabalho” foi feito pelo PSD, quer no Governo, quer na oposição. “Que nós temos problemas, que Portugal tem problemas, e os partidos tradicionais se têm de adaptar a esses novos problemas e ter coragem de resolver, é verdade. Coisa diferente é dizer que os 50 anos foram um desastre”, salientou, recusando-se também a comentar as polémicas que envolvem Luís Montenegro.
Já Manuela Ferreira Leite referiu-se à questão política que, na sua perspetiva, está em causa nas próximas eleições legislativas. “Considero que as pessoas têm lucidez suficiente para saber que não é possível fazer progredir o país numa instabilidade permanente. Portanto, vão ter duas escolhas: ou votar na AD [coligação PSD/CDS] ou entrar numa situação que impossibilita qualquer estabilidade”, disse.
Marques Mendes concordou. “Nestas eleições de 18 de maio, uma parte grande dos portugueses vai votar sobretudo a pensar na estabilidade. As pessoas estão preocupadas com a falta de estabilidade e entendo que uma parte grande dos votos, como talvez nunca tenha acontecido no passado, vai ser a pensar em estabilidade”, considerou.
“O país não pode andar ano a ano em eleições. Não pode mesmo. Com um contexto internacional que é difícil, incerto e instável, não devemos importar mais instabilidade do que aquela que temos. Não devemos acrescentar instabilidade à instabilidade que vem lá de fora”, advertiu.
Interrogado se iria dar conselhos a Luís Montenegro, durante o almoço, para o resto da campanha das legislativas, Marques Mendes respondeu imediatamente: “Não, essa minha parte de comentador acabou”, garantiu, explicando que este era como “um almoço de família”.
A chegada conjunta de Manuela Ferreira Leite e Marques Mendes à sede do PSD, em Lisboa, motivou também alguns momentos de humor. A antiga ministra das Finanças e da Educação manifestou-se surpreendida com a pontualidade de Marques Mendes: “É o que dá querer ganhar eleições”, disse, numa alusão às Presidenciais de 2026.
“Quero ser o primeiro a chegar”, retorquiu Marques Mendes, que também ouviu um comentário do atual líder, Luís Montenegro, sobre o facto de ter sido o primeiro dos antigos presidentes do partido a chegar ao almoço. “É um homem novo”, observou com um sorriso Luís Montenegro.
No final do almoço, Luís Montenegro afastou “a ideia” de eventuais confrontos com Passos Coelho, reafirmando que, “quando ao Dr. Pedro Passos Coelho, não vale a pena estarem a procurar aqui nenhuma polémica, nós estamos muito entrosados no objetivo de estarmos à altura destes 51 anos de história do PSD, projetados para o futuro”, insistiu.
Aliás, garantiu que há total sintonia entre a reflexão do antigo primeiro-ministro e a sua própria visão: “Foi isso que nós fizemos este ano e aquilo que o Dr. Pedro Passos Coelho disse é relativamente simples de explicar, é aquilo que nós estaremos capazes de fazer ainda mais se garantirmos a condição primeira que é a estabilidade”.
Mais à frente, Montenegro completou: “Estou absolutamente de acordo com ele, e acho que ele falou às portuguesas e aos portugueses para, no processo de reflexão e amadurecimento da sua posição, poderem, no fundo, pesar o peso da estabilidade, o peso do trabalho feito e também de quem mostra que quer mudar as coisas.”
Sobre as conversas ao almoço, Montenegro diz que fizeram a análise da situação política e recordaram outros tempos marcantes, do PSD. Não revela os conselhos que recebeu dos antecessores, mas partilha novamente a convicção de que as pessoas estão fartas de eleições e confiante no juízo dos eleitores: “Eu acredito nos portugueses, eu aceitarei o juízo dos portugueses. Eu tenho a certeza que o juízo dos portugueses vai ser o de reforçar esta maioria que nós hoje representamos no Governo e dar continuidade ao trabalho que fizemos. Mas seja qual for a decisão dos portugueses, eu aceitá-la-ei, eu acredito no bom juízo dos portugueses.