Árvores caídas, carros destruídos, vidros partidos, 5.800 ocorrências. Os distritos de Lisboa, Leiria e Setúbal foram os mais afetados pela passagem da depressão Martinho. A manhã foi de levantamento dos estragos e avaliação da intervenção necessária. Só em Lisboa, segundo informou Carlos Moedas, foram registados seis feridos e mais de 630 ocorrências durante a noite e madrugada devido ao mau tempo. Chuva e vento forte vão manter-se nos próximos dias. Montenegro promete “ser rápido e a ir ao terreno” para ajudar as populações afetadas pelo mau tempo
A passagem da depressão Martinho por Portugal deixou um rasto de destruição. Entre quedas de árvores, postes de eletricidade e até de uma torre de comunicações e aviões de “pernas/rodas para o ar”, foram registadas, pelo menos, cerca de seis mil ocorrências até à manhã desta quinta-feira devido ao vento e chuva forte. Quase todos os distritos de Portugal estiveram sob aviso laranja durante a madrugada, mas as zonas mais afectadas pela tempestade, que neste momento se está deslocar par sul, foram Grande Lisboa, a península de Setúbal e o Oeste, mas também Coimbra e o Porto.
Portugal está sob efeito da depressão Martinho, que obrigou a avisos quanto ao vento, chuva e agitação marítima fortes. Segundo o balanço feito às 11h por Alexandre Penha, adjunto de operações da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), foram registadas 5800 ocorrências só entre a meia-noite e as 11h desta quinta-feira, um número “acima da média”.
Antes, a protecção civil já tinha avançado que tinham sido contabilizadas 994 ocorrências antes da meia-noite. A maior parte foi registada na região da Grande Lisboa (mais de 2 mil ocorrências, 35%) e Setúbal (10% das ocorrências). Pelo menos 15 pessoas ficaram desalojadas e outras 13 deslocadas por causa do mau tempo.
Mau tempo vai continuar
Este cenário de chuva e vento forte vai manter-se nos próximos dias, pelo menos até sábado, segundo deu conta Alexandre Penha.
“Não se descarta a possibilidade de fenómenos de vento extremo, especialmente na zona litoral e na zona centro e sul do país, episódios como o que vimos ontem à noite, como uma intensificação repentina do vento. A agitação marítima vai-se manter permanente na nossa costa. É um fenómeno que toda a gente gosta de ver, mas pedimos que se afastem da zona de rebentação”, frisou o responsável.
Alexandre Penha alertou ainda para a possibilidade de ocorrência de inundações nas próximas horas, dado o aumento dos caudais dos rios, em concreto o Mondego, o Tejo e o Guadiana.
Em termos de recomendações para a população, o responsável da Protecção Civil pediu que se evitem “riscos desnecessários nos momentos de maior intensificação destes fenómenos meteorológicos”.
“Se puderem, evitem deslocações. Façam a limpeza dos sistemas de drenagem que foram extremamente afectados durante esta noite, para que façam a drenagem necessária das águas se houver períodos de maior precipitação. Para quem anda a conduzir, atenção à estrada, praticar uma condução prudente e defensiva para evitar acidentes de maior”, referiu.
Seis feridos em Lisboa
Só na capital a depressão Martinho foi responsável por mais de 600 ocorrências e deixou seis pessoas feridas: um polícia municipal, um PSP, dois bombeiros e dois cidadãos. Há ainda 22 estradas com constrangimentos. O balanço foi feito na manhã desta quinta-feira pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, que informou ainda que as rajadas de vento na cidade chegaram a atingir os 120km/h durante a madrugada.
“Foram ventos de muita violência, há muitos anos que não se via isto na cidade”, disse. Entre as ocorrências registadas, mais de 300 dizem respeito a quedas de árvores. Há também a assinalar a queda de estruturas verticais, como por exemplo painéis publicitários e sinalização.
O autarca sublinha que o município respondeu “bem” e com “rapidez” aos incidentes, mas adivinham-se “dias difíceis” para retomar a normalidade. “Pedimos à população que reporte todos os casos”, apela.
Sobre o tempo para as próximas horas e dias, Carlos Moedas foi informado pela APA e pelo IPMA que o que se espera agora é uma continuação da chuva, “mas nada de preocupante”. O vento já não voltará a fazer-se sentir com a mesma intensidade, esclarece.
Carlos Moedas destaca a “violência única” desta quarta-feira à noite, em Lisboa, mas sublinha que “a cidade está a funcionar” e as autoridades estão a trabalhar para que volte tudo à normalidade.
O autarca sublinhou que a cidade está funcional, apesar de terem de ser feitos trabalhos de normalização nos próximos dias, salientando: “Ainda vamos ter dias difíceis pela frente para voltar à normalidade”.
Leiria e Coimbra sem electricidade
Cerca de 18 mil clientes fornecidos pela E-Redes – Distribuição de Eletricidade continuavam às 14:00 desta quinta-feira sem energia devido aos efeitos do mau tempo, sobretudo nos distritos de Leiria e Coimbra, revelou a empresa.
Segundo a distribuidora elétrica, a situação pior ocorreu pela 1 horas, quando 185 mil clientes ficaram sem luz devido aos estragos na rede elétrica, mas o número de instalações afetadas tem vindo progressivamente a ser reduzido e, pelas 14 horas, eram 18 mil os clientes que continuavam sem energia.
Os distritos de Leiria e de Coimbra eram os mais afetados nessa altura. A E-Redes está a utilizar cerca 40 geradores para “minimizar o impacto imediato associado a avarias com reparações mais demoradas”.
Montenegro promete apoios
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, que se encontra em Bruxelas, garante que o Governo será rápido, em articulação com as autarquias, na reposição da normalidade e no levantamento dos estragos para avançar de imediato com a ajuda às populações afetadas pelo mau tempo.
“Tentámos nos dias anteriores, precisamente, tomar todas as medidas preventivas, porque sabíamos que esta madrugada iria ser, de facto, muito problemática, como foi”, começou por referir o primeiro-ministro, acrescentando que o Governo está a “fazer o levantamento” dos estragos registados, de modo a ajudar à “reposição da normalidade”.
“Estamos, neste momento, a fazer o levantamento e a dar todo o apoio possível para a reposição da situação de normalidade naqueles espaços que foram mais afetados e faremos aquilo que sempre temos feito nestas ocasiões, que é ser rápido e ir ao terreno, em colaboração estreita com as autarquias locais, fazer o levantamento dos estragos e proceder de imediato à ajuda das populações e das entidades afetadas”, completou.