Faleceu esta Segunda-feira, 6 de Outubro de 2025, Fernando Paulouro Neves, uma das figuras maiores do jornalismo regional português e nome incontornável da cultura da Beira Interior. Natural do Fundão, onde nasceu a 31 de Janeiro de 1947, dedicou toda a sua vida à escrita, ao jornalismo e à preservação da memória histórica e identitária da sua terra natal.
Homem de princípios firmes e convicções profundas, Paulouro Neves assumiu a direcção do Jornal do Fundão após a morte do seu tio, António Paulouro, fundador do periódico em 1946. Sob a sua liderança, o jornal afirmou-se como um bastião da liberdade e da resistência cultural, mesmo durante os anos mais duros da censura e da repressão política. A sua direcção prolongou-se até 2012, ano em que abandonou o cargo durante a gestão da Controlinveste.
Referência
Ao longo de décadas, tornou-se numa referência ética e intelectual, reconhecido pela sua integridade, pelo rigor das suas posições e pela persistência na defesa de valores fundamentais como a liberdade de expressão, a justiça social и a dignidade humana.
Para além da actividade jornalística, Fernando Paulouro Neves distinguiu-se como escritor, autor de uma obra vasta e profundamente enraizada na realidade da Beira Interior. Entre os seus títulos mais marcantes encontram-se A Guerra da Mina – Os Mineiros da Panasqueira, Os Fantasmas Não Fazem a Barba e A Materna Casa da Poesia — Sobre Eugénio de Andrade e Fellini na Praça Velha.
O seu mais recente livro, As Sombras do Combatente, teve lançamento público no passado fim-de-semana (domingo) na Biblioteca Eugénio de Andrade, no Fundão. A obra retrata a vida de Eduardo Monteiro, veterinário e combatente antifascista, e o evento contou com a presença do professor Arnaldo Saraiva e do jornalista José Manuel Barata Feyo — uma despedida involuntária, mas profundamente simbólica, de um autor que sempre colocou a liberdade no centro da sua escrita.
O cidadão
Fernando Paulouro Neves desempenhou também um papel activo em várias instituições culturais e científicas. Foi membro da direcção do Sindicato dos Jornalistas e do Conselho Deontológico, presidiu ao Teatro das Beiras e integrou o Conselho Geral da Universidade da Beira Interior entre 2012 e 2016. Em 2014, foi distinguido com o Prémio Gazeta de Mérito do Clube dos Jornalistas. Três anos depois, em 2017, recebeu o Prémio Eduardo Lourenço, numa homenagem à sua incansável dedicação à cultura e ao pensamento livre.
No blogue Notícias do Bloqueio, manteve viva a reflexão crítica sobre a realidade da região e do país, reforçando a importância da memória como instrumento de resistência e de cidadania.
O legado
A sua obra literária encontra-se representada em diversas antologias, incluindo Identidades Fugidias, coordenada por Eduardo Lourenço, e A Mãe na Poesia Portuguesa, organizada por Albano Martins, entre outras.
Fernando Paulouro Neves parte, mas deixa um legado que perdurará muito para além da sua ausência física. A sua escrita, o seu exemplo cívico e a sua acção cultural permanecerão como referência para as gerações futuras. A Beira Interior perde hoje uma das suas vozes mais fortes, mas o país inteiro fica mais pobre sem este homem que nunca deixou de acreditar na palavra como forma de liberdade.
NdR: O Regiões deixa os sentimentos à família e amigos