Num momento crucial para o futuro de Castelo Branco, o mandato de Leopoldo Rodrigues aproxima-se do fim sob um manto pesado de desilusão, polémicas e falta de respostas. O que se antecipava como uma oportunidade para modernizar e valorizar o concelho, tornou-se num ciclo de decisões incompreensíveis, ausência de estratégia e episódios que merecem, no mínimo, uma investigação séria e independente.
Nunca esquecerei uma conversa que tive com o presidente, não à muito tempo ao fundo das escadarias da câmara acerca do seu mandato. Falava-se do edifício da antiga Caixa Geral de Depósitos, um espaço emblemático que tinha sido vendido. A câmara tinha o direito legal de preferência para o adquirir — uma oportunidade rara para garantir o controlo público de um imóvel estratégico. Perguntei-lhe por que razão não avançou. A resposta foi curta, mas reveladora: “Não quero ter a cabeça no cepo.”
Essa frase ficou-me na memória. Porque simboliza, como poucas, a essência deste mandato: o medo de decidir, a falta de visão, o receio de assumir responsabilidades. E o resultado está à vista: uma cidade parada no tempo, um concelho a degradar-se e uma liderança que parece mais interessada em sobreviver politicamente do que em servir o interesse público.
As polémicas acumulam-se. Atribuição de contratos de assessoria por valores avultados a indivíduos sem as devidas qualificações, avaliações ilegais de terrenos por assessores na primeira proposta, que na vez de técnicos credenciados, vendas de património público abaixo do valor real — são apenas alguns dos casos que fazem levantar sérias dúvidas sobre a legalidade e moralidade dos actos praticados. O que antes podia ser visto como erro, começa a configurar um padrão.
As ruas estão espelho disso mesmo: calçadas levantadas, buracos por todo o lado, obras mal feitas ou por acabar. A cidade sente-se abandonada nos seus fundamentos, ao mesmo tempo que o executivo parece empenhado apenas em manter uma agenda recheada de festas, festivais e animações. Enquanto o essencial é ignorado, o supérfluo é promovido com entusiasmo.
Mas não se trata apenas de prioridades trocadas. A acumulação de cargos por parte de Leopoldo Rodrigues — como presidente da câmara e presidente da concelhia local do Partido Socialista — tem gerado legítimas suspeitas de promiscuidade entre o exercício do poder autárquico e as lógicas partidárias. Multiplicam-se os relatos de favorecimentos, nomeações por afinidade e uma crescente cultura de auto-promoção. Em vez de transparência, instala-se a opacidade. Em vez de serviço público, o jogo político.
Vários processos estão alegadamente a ser investigados. O jornal ORegiões promete trazer à luz novos dados sobre o que realmente se passou — e o que ainda se passa — nos bastidores da Câmara de Castelo Branco. A verdade, porém, é que a maioria da população já não precisa de novas provas para sentir o desgoverno.
Este editorial não pretende atacar ninguém no plano pessoal. Mas é inaceitável que se normalize uma governação assente na ausência de coragem, na gestão de imagem e no desprezo pelo rigor técnico e legal. Castelo Branco merece muito mais do que isto.
É tempo de exigir responsabilidade. De pedir explicações claras. De parar para pensar sobre o que queremos — e, sobretudo, o que não podemos mais tolerar.
Porque, ao contrário do que Leopoldo Rodrigues teme, o lugar de um presidente de câmara não é fugir ao “cepo”. É encará-lo. Decidir, responder e, se for o caso, pagar o preço político ou legal pelas escolhas que faz. Liderar é isso.
E liderar Castelo Branco exige mais do que festas e frases feitas. Exige coragem. Exige verdade.