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O Couto sem Taco e a PSP Rasca

Foi encontrado a boiar num lago de um campo de golfe, segunda, dia seis, o corpo do antigo ministro Couto dos Santos, da era dos governos de Cavaco Silva. A polícia, chamada ao local, decidiu logo que era morte natural, como se os senhores agentes tivessem cursos de médicos ou especialidade em investigação criminal. Couto dos Santos, que tinha 75 anos, ficou abundantemente conhecido em Portugal quando quase um milhão de estudantes, em 1992, saiu à rua para dizer que nem queria um exame injusto (chamava-se PGA) nem aumentos de propinas. A cena que fez de Couto uma figura caricata foi quando quatro estudantes se levantaram da cadeira e, subindo para estas, mostraram ao ministro da Educação os seus belos rabos — onde se lia “Não Pago”, uma letra por cada nádega.

Este movimento estudantil, em que estive envolvido até como ‘leader’, foi apelidado “Geração Rasca”, pelo intelectual e director, à época, do jornal “Público”, o socialista Vicente Jorge Silva.

Couto dos Santos, que era um homem paciente e bem-disposto, viu cair-lhe na cara os tais rabos e no colo manifestações resistentes e até violentas. Quando os estudantes, contra a cavacal asneirada, decidiram subir as escadarias da Assembleia da República, o Cavaco mandou o seu fiel amigo e ministro das polícias, Dias Loureiro, carregar na Geração Rasca. Ainda hoje sei que tempo fará amanhã, já que um agente muito dedicado me partiu a omoplata.

Nada nos movia contra Couto dos Santos. Era, como disse, uma pessoa simpática e de bom tracto e diálogo. Via-se, nas reuniões e nos discursos. Mas o nosso combate era contra a híper-neo-bacoca-capitalista-liberalização do Estado, coisa que o Dr. Aníbal fez durante 20 anos em Portugal a todas as áreas.

Por isso, quando soube, quando soubemos da misteriosa morte de Couto dos Santos, a Geração Rasca preocupou-se. A PSP apressou-se a levar o cadáver para a Medicina Legal. Decidiu-se por morte natural. Mas a Judiciária, mal soube disso, foi a correr ao hospital para saber da autópsia. Ora, esta, determina que o senhor não faleceu afogado. E também não conseguiu concluir a causa de morte… Um AVC, um enfarte, qualquer coisa. Nada. A PJ encostou a PSP à parede. Santos tinha sido visto a jogar golfe sozinho, momentos antes. Algo que adorava e fazia com regularidade. Mas a PJ acabou por descobrir que o taco com que jogava desapareceu por milagre. Não há taco, não morreu afogado, não há causa de morte, a PSP não queria a PJ envolvida… que diacho!? Segundo a Medicina Legal há «necessidade de exames complementares que poderão prolongar-se por vários meses», cita-se. Mais: «o Instituto de Medicina Legal (IML) do Porto solicitou a realização de exames toxicológicos e a análise de substâncias que possam esclarecer se uma paragem cardíaca vitimou Couto dos Santos». O quê? Pode ter sido envenenado (até pelo próprio corpo, sem crime)?

O caso é raro. Couto dos Santos faz parte da História e da história da chamada Geração X (1965–1980). Faz parte da vida das pessoas que hoje têm entre 45 e 60 anos. E somos ainda alguns.

Queremos saber como o nosso Darth Vader pereceu. Sem taco nem bolas, já sabemos. Merecemos mais.

Não, não somos nem nunca fomos “rascas”. Mas somos duros de roer. Aguentem.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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