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O Donald Que Rugia ao Espelho

I — A diplomacia do aquário

O gajo é doido. Agora, com uma distinta lata, e a contradizer o seu próprio texto de acordo
de paz, o Pato Donald Trump diz: «O Hamas enfrenta a aniquilação total se não ceder o
controlo de Gaza a Israel». Pois. É o que este pobre homem cor-de-laranja, eleito pelos
mais estúpidos norte-americanos, faz: diz tudo o que lhe vem à mona, sem se lembrar do
que aconteceu há três segundos. Trump afinal é um peixe — de aquário, claro, porque o
mar aberto exige memória, e ele esquece-se até de onde deixou a cauda. O futuro, para
ele, é uma bolha de ar que se repete até rebentar com a mesma frase anterior, em ‘loop’
patriótico.

II — O Evangelho Segundo São Donald, Apóstolo da Contradição

Diz ele num dia que «os Estados Unidos nunca mais se meterão em guerras estrangeiras»
e, dois minutos depois, anuncia «um pacote turístico de bombardeamentos amigos» para o
Médio Oriente, com desconto de grupo e bandeirinha à porta do hotel. Trump fala como
quem deita pipocas à História: ruidoso, inútil e perigosamente inflamável. No seu Evangelho pessoal, o capítulo do bom senso foi rasgado e substituído por um manual de instruções da torradeira. A verdade, nele, é um electrodoméstico com curto-circuito.

III — A geometria variável da estupidez

Trump já explicou que “a Terra é redonda, mas devia ser quadrada, para caber melhor nas
caixas de correio da América”. Disse isto numa conferência sobre energia limpa, enquanto
assinava uma ordem executiva para “aumentar o fumo das fábricas, que é bom para o turismo”. Dias depois, garantiu que “os ventos são comunistas, porque sopram sem pagar
impostos”. Cada frase sua é um tsunami de neurónios em férias, e o planeta inteiro apanha
o rescaldo — ou pelo menos uma selfie com o desastre.

IV — Paz, guerra e o buffet de sobremesas

A sua nova teoria de política internacional chama-se “paz por saturação calórica”: oferecer
donuts a todos os lados até ninguém conseguir lutar de tanto colesterol. Foi assim que,
segundo o próprio, “acabou com a guerra das Coreias durante o pequeno-almoço”. Mas
logo a seguir anunciou sanções à Coreia errada — a do Sul — “porque o Norte é melhor a
fazer fogos-de-artifício”. É a versão geopolítica de um sketch de Monty Python, só que com
mísseis reais e cabeças ocas a rir no coro.

V — A memória de um peixinho dourado com megafone

Trump acorda todos os dias com a certeza de ter descoberto a pólvora — e de ter sido
injustamente perseguido por quem inventou os fósforos. Ontem declarou que “a liberdade
de expressão deve ser total, excepto para quem discorda de mim”. Hoje, promete criar “um
Departamento de Modéstia Presidencial”, presidido por ele próprio, naturalmente. É um
homem de fé — fé em si mesmo, que é a mais lucrativa das religiões, com templos em cada canal de televisão e orações transmitidas em ‘prime-time’.

VI — O Império dos Espelhos Falsos
A política mundial, com Trump, tornou-se uma feira de horrores com entrada gratuita e
saída paga. Cada gesto seu é uma caricatura de si mesmo, um reflexo deformado onde
todos rimos até perceber que estamos dentro do espelho. Quando ele ameaça “aniquilar o
Hamas”, o mundo treme — não de medo, mas de vergonha alheia. E, no entanto, há algo
de fascinante nesta tragicomédia global: como é possível que um homem consiga ser
simultaneamente bufão, profeta e lapiseira sem tinta?

VII – Conclusão com cheiro a sardinha frita

Trump é, no fundo, a metáfora perfeita do século XXI: barulhento, inflamável e convencido
de que a História se faz a ‘tweets’. Diz uma coisa e o seu contrário, com a mesma
convicção de quem anuncia o fim do mundo e, logo depois, a promoção de Black Friday. O
gajo é doido, sim — mas o mais inquietante é que o mundo inteiro parece gostar desse
perfume, a insanidade. Talvez porque, no fundo, todos nós já vivemos dentro do mesmo
aquário. E Trump, lá dentro, continua a fazer bolhas.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Editor Executivo. Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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