Nas montanhas do Peru, Machu Picchu surge imponente como uma das Sete Maravilhas do Mundo, fascinando turistas com sua monumentalidade e aura de mistério. Do outro lado do Atlântico, Portugal guarda um tesouro arqueológico que, embora mais modesto em dimensão, revela uma riqueza histórica que atravessa milénios. O Sítio Arqueológico do Prazo, em Freixo de Numão, no concelho de Foz Côa, tem sido chamado de “Machu Picchu Português” e é um verdadeiro museu a céu aberto
Descoberta Acidental e Investigação Intensa
A história do Prazo começou a ser desvendada por acaso, quando agricultores, ao plantar amendoeiras na década de 1950, se depararam com vestígios antigos. Décadas depois, nos anos 80 e 90, o arqueólogo António Sá Coixão iniciou uma investigação meticulosa que trouxe à luz a complexidade deste sítio. O trabalho revelou vestígios que vão do neolítico à contemporaneidade, oferecendo uma janela única para a ocupação humana ao longo dos tempos.
Entre os achados, destacam-se ruínas de uma vila romana datada dos séculos I a IV d.C., uma basílica paleocristã ativa até o século XIII, e até cemitérios medievais. Adicionalmente, marcas em rochas testemunham a presença pré-histórica na região, enquanto estruturas senhoriais, templos e necrópoles mostram a diversidade das civilizações que por ali passaram.
Embora o local tenha sido abandonado ao longo dos séculos em favor da aldeia vizinha de Freixo de Numão, as suas ruínas continuam a atrair turistas e pesquisadores. As lendas sobre o abandono são intrigantes: segundo relatos recolhidos por António Sá Coixão, os habitantes teriam fugido porque “as formigas comiam as criancinhas”. Esse misto de história e folclore adiciona um elemento de fascínio ao sítio.
Recentemente, o Sítio Arqueológico do Prazo foi proposto como Património Cultural pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR). A classificação, segundo o vice-presidente da comissão, Jorge Sobrado, visa garantir a conservação do local e criar condições para sua valorização. “É um testemunho único de várias épocas históricas, com destaque para a romana e medieval”, afirmou.
Para António Sá Coixão, o reconhecimento é importante para salvaguardar o valor histórico do Prazo. Acredita que a classificação pode abrir portas para visitas organizadas e para um maior entendimento do património pelos visitantes.
O “Machu Picchu Português” não possui a grandiosidade de sua contraparte peruana, mas sua riqueza está na amplitude temporal e na diversidade de vestígios que abriga. Dos menires pré-históricos às ossadas medievais, passando pelas ruínas da vila romana, o Prazo é um local onde a história ganha vida.
A cada passo entre suas ruínas, é possível imaginar as vidas que ali floresceram e os mistérios que ainda aguardam ser desvendados.