Portugal, país onde ser doutor ou mestre não significa, necessariamente, ser inteligente. O que era para ser uma nação de cérebros brilhantes, hoje, não passa de uma coleção de diplomas enfumaçados, apenas para pendurar na parede como troféus de uma era que já não sabe o que fazer com tanto conhecimento inútil. A saturação de licenciaturas, mestrados e doutoramentos tem vindo a criar um novo tipo de paradoxo: a Ignorância Académica, que agora se exibe nas redes sociais de forma descarada e impune.
É impressionante o número de indivíduos com graus académicos elevados a esbanjarem argumentos completamente vazios, com uma certeza inabalável e um português de escrita duvidosa. Aqueles que, à partida, deveriam ser exemplos de saber, não fazem mais do que evidenciar a falta de raciocínio lógico e bom senso, como se o simples facto de ostentar um diploma fosse suficiente para cobrir essa enorme lacuna. O verdadeiro conhecimento não se resume a um pedaço de papel, mas sim na qualidade das ideias que somos capazes de apresentar e discutir. E, é claro, neste aspeto, muitos dos nossos “doutores” e “mestres” deixam muito a desejar. Não, o canudo não nos torna automaticamente mais sábios, como muitos parecem acreditar.
Em Portugal, a situação é ainda mais grotesca, se é que isso é possível. O país assiste, atónito, à ascensão de estafetas, empregados de mesa e até de limpeza com doutoramentos a tiracolo. Tudo isto num cenário de cada vez mais jovens a concluir os seus cursos e a descobrirem que o mercado de trabalho não os espera, ou que, pior ainda, nem sequer sabe o que fazer com eles. As universidades, como fábricas de diplomas, continuam a produzir em série, mas ninguém parece perceber que as áreas em que esses jovens se formaram estão a desaparecer ou a transformar-se em mercados saturados, com poucos lugares disponíveis.
E para os nossos “irmãos” chineses, a situação é idêntica. A China, onde se formam milhões de licenciados todos os anos, viu-se confrontada com uma realidade ainda mais crua: uma economia que estagnou e não tem absorvido a mão de obra qualificada. “O jovem Sun Zhan, com mestrado em Finanças, vê-se agora a servir mesas num restaurante, algo que, provavelmente, nunca foi o seu plano de vida”. Mas, como ele, são muitos os jovens licenciados, tanto em Portugal como na China, que se veem obrigados a ajustar as suas expectativas e a aceitar trabalhos aquém daquilo que imaginavam, não sem um amargo de boca. Afinal, onde estão os empregos dignos e bem pagos para todos os doutores e mestres que o sistema educativo produziu?
A China não está sozinha neste cenário. O desemprego jovem, que em Portugal já ultrapassou a casa dos 20%, continua a ser um problema colossal. Apesar da alteração de dados e números para tentar mostrar que a situação não é tão grave, a realidade é bem diferente. Jovens altamente qualificados são forçados a aceitar empregos precários ou, como “ o caso de Wu Xinghai, a tentar a sorte na indústria do cinema, atuando como figurante. A diferença é que, ao contrário do que se esperaria de um engenheiro eletrónico, ele agora é apenas o guarda-costas de um ator no set de filmagens”. E assim se vai sobrevivendo, entre empregos temporários e incertezas sobre o futuro.
O que mais assusta é perceber que, mesmo entre aqueles que já têm emprego, a insatisfação é evidente. Os que conseguem trabalhar em áreas que não correspondem às suas qualificações, ou que têm um trabalho, mas não sabem por quanto tempo o manterão, estão tão perdidos quanto os que ainda não encontraram um emprego digno. O “emprego de sonho” transforma-se, muitas vezes, num pesadelo de expectativas frustradas. E o que restará para o futuro? O que mais pode fazer um jovem licenciado que, em vez de estar a trabalhar na sua área de especialização, acaba a servir café?
Este paradoxo académico precisa ser urgentemente desafiado. Os diplomas, por si só, já não são a chave para o sucesso. E, mais importante, é preciso ensinar aos nossos jovens que a inteligência não se mede apenas pelo que se escreve nos papéis, mas sim pela capacidade de adaptação, de inovação e, sobretudo, pela capacidade de refletir e pensar criticamente. Porque, no final das contas, é a falta disso que tem transformado o nosso país numa terra de doutores… sem saber o que fazer com os seus próprios diplomas.