As eleições legislativas de 18 de maio de 2025 redesenharam o mapa político nacional. A Aliança Democrática (AD) venceu com 31,8 % dos votos e elegeu 91 deputados. O Chega tornou-se a segunda força política, com 60 deputados, e o Partido Socialista (PS), embora com igual percentagem de votos, ficou-se pelos 58 lugares — o seu pior resultado em 40 anos.
Estes resultados refletem mais do que tendências eleitorais: revelam fragilidades estruturais em alguns partidos, e o caso do PS é paradigmático. O partido, que há pouco tempo governava com maioria absoluta, atravessa hoje uma crise de identidade e de estratégia. O problema não é apenas externo; é sobretudo interno.
A eventual candidatura de Augusto Santos Silva à Presidência da República, caso venha a confirmar-se nos moldes que têm sido publicamente referidos — nomeadamente, com o objetivo de travar António José Seguro dentro da esfera socialista — levanta legítimas preocupações quanto à forma como o PS encara as instituições democráticas. A Presidência da República não pode ser reduzida a palco de disputas internas de um partido, sob pena de desvirtuar o próprio espírito do sistema constitucional.
Em vez de projetar um programa de futuro ou de reconstruir a sua relação com os eleitores, o PS parece fixado em garantir equilíbrios internos e preservar dinâmicas de controlo que, a médio prazo, corroem a sua relevância pública. O risco de caminhar para o isolamento institucional — como o que se verificou com outras forças políticas de matriz histórica — é real. A comparação com o PCP, que progressivamente perdeu espaço por não se adaptar, impõe-se como alerta.
Num momento em que os cidadãos manifestam sinais de desilusão, e em que a extrema-direita ganha espaço através de uma linguagem simples, mas eficaz, cabe aos partidos tradicionais demonstrar capacidade de renovação e sentido de responsabilidade institucional. Isso exige clareza, abertura e vontade de dialogar com o país — e não apenas com os corredores do próprio partido.
Ao PS, enquanto partido com responsabilidades governativas e institucionais profundas, exige-se mais do que sobrevivência política. Exige-se visão. Se o partido quiser continuar a ser alternativa relevante, terá de inverter o atual ciclo de fechamento e reencontrar o caminho da confiança pública. Essa mudança não será possível enquanto o foco continuar a ser “quem pode impedir quem”.
O país precisa de propostas. De liderança com sentido de Estado. E de partidos que olhem para a democracia como um bem coletivo, e não como um campo de batalha privado. O PS está, neste momento, perante uma encruzilhada histórica. A escolha será sua. Mas as consequências serão de todos.
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