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O que sabemos, até agora, sobre a tragédia do Elevador da Glória

O histórico Elevador da Glória, inaugurado em 1885 e um dos símbolos mais reconhecidos da cidade de Lisboa, foi palco de um dos mais graves acidentes urbanos das últimas décadas. No final da tarde de 3 de Setembro de 2025, a cabina em descida descarrilou e embateu com violência contra um edifício da Calçada da Glória. O desastre provocou 16 mortos confirmados e mais de 20 feridos, entre os quais vários turistas estrangeiros. A capital mergulhou em luto e o país ficou chocado perante uma tragédia que transformou um trajecto de poucos minutos, habitualmente associado ao encanto turístico da cidade, num cenário de horror.

O momento do acidente

De acordo com testemunhos recolhidos no local, a cabina iniciou a descida pelas 18h05. Poucos segundos depois, notou-se um som metálico seguido de uma vibração brusca. O funicular ganhou velocidade sem controlo, atravessando a linha com estrondo e embatendo com violência no prédio do lado Nascente da calçada. O impacto foi de tal forma forte que o veículo ficou “esmagado como uma caixa de cartão”, segundo descrição dos bombeiros. Muitos passageiros ficaram presos nos destroços, obrigando as equipas de socorro a recorrer a ferramentas de desencarceramento.

O INEM activou de imediato um dispositivo de emergência, com dezenas de ambulâncias e equipas médicas no terreno. Os feridos foram encaminhados para os hospitais de Santa

Maria, São José e São Francisco Xavier. Cinco vítimas permanecem em estado crítico, entre as quais uma criança, e há registo de três cidadãos britânicos entre os mortos.

Primeiras conclusões da investigação

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) divulgou uma nota preliminar onde indica que a causa provável do acidente foi a ruptura do cabo de ligação das cabinas, precisamente no ponto de fixação da carruagem em descida. Esta falha anulou a eficácia dos travões de emergência e permitiu que o veículo se despenhasse descontrolado.

O relatório acrescenta que a colisão ocorreu em menos de cinquenta segundos após a ruptura, a uma velocidade próxima dos 60 quilómetros por hora. Apesar do colapso, o cabo encontrava-se dentro da sua vida útil prevista, com apenas 337 dias de utilização, quando o limite técnico fixado é de 600. O incidente levanta assim questões sobre o estado de conservação das peças críticas e sobre a eficácia dos procedimentos de inspecção.

Balanço humano e reacções institucionais

Até ao fecho desta edição, o balanço oficial é de 16 mortos e mais de 20 feridos. Entre as vítimas encontram-se tanto residentes como turistas, circunstância que deu ao caso projecção internacional. O Governo decretou luto nacional e várias embaixadas prestaram solidariedade.

A Carris, operadora do Elevador da Glória, garantiu que os planos de manutenção estavam em dia, mas admitiu que o contrato de prestação de serviços especializados havia expirado dias antes, embora o acompanhamento técnico se tivesse mantido de forma provisória. Esta revelação provocou controvérsia política e social, com partidos da oposição a acusarem falhas graves na supervisão do equipamento.

O Ministério Público abriu inquérito criminal para apurar responsabilidades, envolvendo a Polícia Judiciária e peritos independentes. O GPIAAF comprometeu-se a apresentar um relatório preliminar no prazo máximo de 45 dias.

Fragilidades de infra-estruturas históricas

A tragédia relançou o debate sobre a utilização intensiva de infra-estruturas centenárias em Lisboa. O Elevador da Glória, tal como os seus congéneres da Bica e do Lavra, foi concebido no final do século XIX, tendo sofrido modernizações ao longo do tempo. Apesar de ser considerado património histórico e atracção turística de primeira ordem, continua a depender de tecnologias básicas, como cabos de aço e travões mecânicos, cujo desgaste pode ser difícil de detectar apenas com inspecções visuais.

Especialistas em engenharia mecânica e em património urbano sublinham que estes equipamentos exigem planos de manutenção reforçados, compatíveis com os níveis de utilização contemporâneos e com as exigências de segurança do século XXI. Recordam

ainda que, no auge da procura turística, cada cabina transporta centenas de passageiros por dia, multiplicando o desgaste dos sistemas de tracção e de travagem.

Um símbolo marcado pela tragédia

O Elevador da Glória é, há mais de um século, uma das imagens mais fotografadas de Lisboa, transportando tanto residentes como visitantes até ao Bairro Alto. A tragédia de Setembro de 2025 alterou radicalmente como este símbolo da cidade é percepcionado. Se antes representava o charme da Lisboa antiga, hoje está associado a uma catástrofe que expôs fragilidades técnicas, responsabilidades políticas e falhas de fiscalização.

O acidente abre uma reflexão inevitável: como conciliar a preservação do património histórico com a necessidade imperiosa de garantir a segurança pública? A resposta dependerá não somente das conclusões técnicas, mas também da vontade política e da pressão social para que tragédias semelhantes não voltem a manchar a memória colectiva da capital.

Política aparece

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou profundamente o acidente, destacando a necessidade de apurar as causas e expressando solidariedade às famílias das vítimas. Cancelou a Festa do Livro de Belém como gesto de respeito .

O Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, cancelou parte da sua agenda, mantendo apenas reuniões essenciais. Enfatizou o acompanhamento das operações de socorro e a coordenação entre autoridades .

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, declarou que a cidade «está de luto» e destacou o trabalho das equipas de emergência. Enfrentou críticas políticas, mas defendeu-se afirmando que não havia erros directos da autarquia .

Posicionamentos dos Partidos Políticos

● PS: José Luís Carneiro, secretário-geral, defendeu um apuramento exaustivo das causas do acidente. O partido expressou condolências e solidariedade, pedindo rapidez na investigação .

● Chega: André Ventura manifestou «profunda tristeza» e solidariedade, classificando o acidente como uma «marca dolorosa» para Lisboa .

● BE: Mariana Mortágua, coordenadora do partido, destacou a necessidade de esclarecer o acontecido, mas focou-se no pesar pelas vítimas .

● PCP: Expressou solidariedade e condolências, sem adiantar críticas políticas directas .

● IL: Mariana Leitão advogou prudência, defendendo que é prematuro tirar conclusões antes das investigações .

Reacções

Carlos Moedas enfrentou pressão política, com Alexandra Leitão, candidata do PS à Câmara de Lisboa, a acusá-lo de se esconder atrás de outros responsáveis e de não

fornecer respostas adequadas. Moedas rejeitou demissão, afirmando que só sairia se provada a sua responsabilidade directa .

A tragédia ressoou além-fronteiras. Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, e António Costa, Presidente do Conselho Europeu, expressaram condolências e solidariedade. Líderes como Emmanuel Macron (França) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia) associaram-se ao luto .

Redes Sociais: Vozes de Pesar e Exigência

Nas plataformas digitais, o acidente gerou uma onda de comoção. No Facebook, destacaram-se mensagens de solidariedade e partilha de informações sobre as vítimas. No X (antigo Twitter), políticos e cidadãos debateram as responsabilidades, com hashtags como #JustiçaParaAsVítimas e #LisboaDeLuto. No Reddit, threads discutiram a história de manutenção do elevador e possíveis negligências. No Instagram, imagens das homenagens nas ruas de Lisboa viralizaram, com foco no apelo à unidade nacional .

As reacções políticas à tragédia do Elevador da Glória reflectem um país unido no luto, mas dividido na análise das responsabilidades. Enquanto as investigações prosseguem, a exigência de respostas e a memória das vítimas permanecem no centro do debate público.

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