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O Traveca Film Festival na vila operária

O velho do Restelo pouco mais de 40 anos devia ter, que na era da maresia o corpo não tomava nem aspirinas nem antibióticos, para acalmar as viraças e as bactericidas que se infiltram na maçã de adão ou no ventre de Eva Maria. E as Gilettes fusion 3, além de caras, ainda não se vendiam no Porão Doce ou na loja dos 300. Por isso, ao jovem agricultor do Restelo, segundo o monocular Camões, fê-lo aparecer lúcido, na praia de Algés, a berrar contra o empreendedorismo de Estado.

Dizia o rapaz, que a acreditar tinha barbas brancas e fato sujo de pai-natal, que andar a gastar dinheiro em palermices, em vez de tratar da fome e dos nossos doentes, era uma ventura desmesurada e triste, para holandês ver. Mas a nau lá ia, para o outro lado do mar. O soldadinho é que não voltava, tal a tormenta desses naufrágios porque passámos. Então como agora era o pugresso que interessava. E esse pugresso centrava-se, apenas, no consórcio negreiro. Íamos por esse mar abaixo, navegação à vista, comprar negros a outros negros, que os vendiam, para os trazer ou levar ao Brasil, explorá-los até caírem para o lado, na produção de café, no buraco fundo de Minas Gerais, na plantação de tudo em Angola. Descobrimos o caminho marítimo da escravatura, um feito com que ficámos tão orgulhosos que, um dia destes, ainda dão uma estátua e um feriado pelas façanhudas viagens “empreendidas”.

Mas voltemos à fantasia, como ainda ontem fez o sr. Primeiro Ministro no encerramento do festival da Canção do PPD. O Tribeca (Tribeca é um bairro de Manhattan, Nova Iorque, que se chama “Triangle Below Canal Street”) acontece na primavera para mostrar aos nhurros norte-americanos filmes com legendas. Foi criado pelo sr. De Niro e tem um ar de gala lá nas américas. Vindo de aluguer para Lesboa, pousou armas no mais pobre bairro da cidade, o Beato, num espaço onde ainda ninguém descobriu o que há-de fazer com a coisa. Uns barracões mal-amanhados que correspondem a metade do quartel da Manutenção Militar. Lá vai enchendo de vez em quando com eventos em inglês e umas estrelas internacionais.

O que gostava é que essas estrelitas passassem a rua para o outro lado, subissem um par de metros e fossem ver as vilas operárias a cair de podre e com gente dentro, ali a dois minutos da pimbalhada de néon do Traveca Lisboa. É um faz de conta que me faz pensar se o DeNiro e a Woooooopy não terão sido vendados antes de entrar no quartel. Se a Woooopy visse a miséria e a fome que para ali vai, não era apenas ao RAP que chamava de pindérico. Era bem capaz de se maçar com a pobreza – como aliás faz nos EUA.

Já percebi. Lisboa está transformada num enorme cartaz com papel de cenário colorido onde vamos pondo estrelas do Monsanto (Hollywood) e assobiamos para o lado. Era de desconfiar. Alfacinhas já não há, lisboetas há muitos, mas a viver fora. Cá dentro são os festivais dos vistos Gold e Silver e Bronze, mais legumes vegan e coisas sem glúten. Ou seja: a dieta mediterrânica da capital vai fazendo-se ao abrigo do normativo ‘woke’, essa palavra e ideologia inventada para censurar toda a gente que diga: “O Rei vai nu”; eu disse o ‘Rei’ porque acho muito desagradável estar a escrever “O Moedas vai nu”, que me dá logo uma imagem cerebral que me congela as estopinhas.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Editor Executivo. Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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