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O Xuto No Corão

Os Populistas lá deram mais uma manhã colorida ao Parlamento, agora com uma lei de costumes que vai proibir o que julgam ser vestes islâmicas femininas em público. Cheios deles mesmos e de ar balofo, os Populistas pensam ter dado um Xuto no Corão (eu sei que é chuto, mas nunca se perde uma oportunidade de homenagear o Zé Pedro e a RCC).

Portanto, a partir de um destes dias, em Portugal, estarão proibidos: Abaia, Bioco, Boshia, Burkini, Burqa, Çarşaf, Chador, Coca, Capelo, Haik, Hijab, Jilbab, Kimeshek, Kurkhars, Niquab, Paranja, Safseri, Shaila, Tudong e Iashmak — se a lei estiver bem feita. Claro que não deve estar, mas isso já lá vamos.

Referências bíblicas no Génesis (primeiro livro do Pentateuco, presente na Tora e na Bíblia cristã) destacam o uso de véus, indicando a sua importância nas tradições culturais. As mulheres cristãs tradicionalmente usavam vestimentas escuras com véus — brancos para as solteiras e pretos para as casadas. O costume manteve-se no norte de África, no Mediterrâneo e na Península Arábica, até aos dias de hoje. Espalhou-se até à Índia, passando pelo Afeganistão e Paquistão. São regras de vestimenta que vêm do fundo dos tempos. Há documentos raros que comprovam que na Mesopotâmia já existia diferenciação de vestuário obrigatória.

O objectivo? O mesmo do Traje Académico de Salazar: nivelar tudo, para que os pobres não pareçam pobres e, assim, não incomodem os ricos. O costume, que morreu nos anos 80 do séc. XX, parece ter ressurgido em força na década de 2010 e, por cá, tem estado a atormentar as cabeças progressistas.

A tábua era a lei

Os códigos de vestuário são tanto um exercício de poder como uma forma de arte. Aliando-se, tornam-se dinamite da pior — pura como o senhor Nobel a fazia. Tornam-se imposição e são as próprias pessoas que adoptam os códigos. O fato e gravata para trabalhar é (ou foi?) mais um código obrigatório masculino no século XX e início do XXI. Que confusão deve aquilo fazer a um Nepalês ou a um Indiano! O salto alto foi obrigatório para homens que eram homens — homens de montaria —, o cavalo a grande justificação para o salto em forma de tacão.

Veio a fada madrinha e o salto passou, por uma questão de igualdade de género, também para a mulher. Com o tempo, esta passou ao uso exclusivo do salto até ao estilete — inimigo mortal da calçada portuguesa. Sensual e provocante, como nunca fora antes. Já não havia cavalo…

Vai Daí…

A única voz razoável na Assembleia da República, na manhã de sexta-feira, foi a de Pedro Delgado Alves (PS), que explicou que, com a passagem da lei proibitiva, as mulheres obrigadas a usar a burca passariam, pura e simplesmente, a não sair de casa. Era o grandioso resultado contra-natura da lei proposta pelos Populistas. E tem razão.

Portanto, a partir de um destes dias, em Portugal, estarão proibidos: Abaia, Bioco, Boshia, Burkini, Burqa, Çarşaf, Chador, Coca, Capelo, Haik, Hijab, Jilbab, Kimeshek, Kurkhars, Niquab, Paranja, Safseri, Shaila, Tudong e Iashmak.

O que lixa isto tudo? É que o Bioco, o Capelo e a Coca são portuguesas — bem portuguesas, tradicionais portuguesas — e ainda hoje se usam. Mas como os Populistas não percebem patavina de Etnografia, História de Arte, História da Moda, História de Portugal, Antropologia, Sociologia e tantas outras artes e disciplinas (senão não eram Populistas), vão deitar fora costumes e valores tradicionais de um país que se diz cristão e que moldou os seus costumes à Bíblia e, principalmente, dentro dela, ao mal chamado “Antigo Testamento”, a que se deve chamar Tora. É que já lá estão escritos estes códigos e estas vestes. Mas os Populistas vão ver o Papa, derretem uns cérebros de cera em Fátima — e aquilo passa-lhes.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Editor Executivo. Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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