O alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou ontem profundo lamento pelos números “estarrecedores” registados após ataques israelitas na Faixa de Gaza que provocaram mais de 100 mortes.
Em comunicado, Turk declarou: “Os relatos de mais de 100 palestinianos mortos em ataques aéreos israelitas contra casas, tendas de deslocados internos e escolas em toda a Faixa de Gaza, após a morte de um soldado israelita, são estarrecedores”.
O responsável da ONU salientou que estes ataques ocorreram num período em que os palestinianos começavam a acreditar na possibilidade de um fim à violência, após dois anos de “sofrimento e miséria indizíveis” no território. “Não podemos deixar escapar esta oportunidade de paz e de um caminho para um futuro mais justo e seguro”, afirmou, apelando a Israel para que cumpra as suas obrigações no âmbito do direito internacional humanitário e considerando as autoridades de Telavive responsáveis por quaisquer violações.
Turk recordou ainda que “as leis da guerra são muito claras quanto à importância primordial da proteção dos civis e das infraestruturas”.
Os ataques, iniciados na noite de terça-feira e prolongados até à madrugada de hoje, representam a maior ameaça ao frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas desde a sua implementação a 10 de outubro. Segundo a Defesa Civil palestiniana, controlada pelo Hamas, os bombardeamentos provocaram pelo menos 104 mortos, incluindo 46 crianças.
Israel acusa o Hamas de violar o cessar-fogo ao abater um soldado israelita em Rafah, no sul do enclave, alegação rejeitada pelo grupo islamita. O ataque foi também motivado por um incidente na entrega de um corpo de refém mantido na Faixa de Gaza. Análises forenses revelaram que os restos mortais devolvidos pertenciam a um antigo refém já recuperado há quase dois anos, e não a um dos 13 corpos ainda por entregar.
Após os primeiros ataques israelitas, o Hamas adiou a entrega de um corpo que tinha anunciado para o mesmo dia. No âmbito do acordo, o grupo palestiniano entregou os últimos 20 reféns vivos, mas apenas 15 dos 28 mortos, alegando dificuldades em localizar os corpos entre os escombros provocados por anos de conflito. Israel, em contrapartida, libertou quase dois mil presos palestinianos e devolveu 195 corpos.
O entendimento, impulsionado pelos Estados Unidos e mediado por Egito, Qatar e Turquia, prevê inicialmente a retirada parcial das forças israelitas e a entrada de ajuda humanitária. A fase seguinte deverá incluir a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas e a reconstrução do enclave, além da definição da futura governação do território.
A guerra na Faixa de Gaza começou com ataques do Hamas em outubro de 2023 no sul de Israel, que provocaram cerca de 1.200 mortos e 251 reféns. Israel respondeu com uma operação militar de grande escala que provocou mais de 68 mil mortos, destruiu quase todas as infraestruturas do território e deslocou centenas de milhares de pessoas.




