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Os Passos Da Procissão Do Senhor Dos Passos

Na liturgia da vida, os gestos e as atitudes são de grande importância. Se a língua dos povos é diferente e nem sempre é fácil de entender, os gestos, regra geral, são uma linguagem comum, por todos entendida, uma forma espontânea de comunicar. Da liturgia do culto e da oração também fazem parte atitudes corporais, gestos, palavras, sons, o corpo e a alma, o divino e o humano, o interior e o exterior.

Tantas vezes o que nos vai na alma se expressa de forma externa e o que acontece exteriormente ecoa no mais profundo de nós mesmos. Pode haver quem viva num mundo fantasioso e tente fazer crer que só a inteligência e a razão têm valor, desdenhando esta linguagem natural que, na liturgia da vida e do culto, tantas vezes brota do próprio coração. Valoriza-se muito e forma-se a inteligência, a liberdade, a vontade, e bem. Mas esquece-se a formação e a valorização do coração, o princípio unificador de toda a natureza humana, como afirma Francisco.

Ora, o povo cristão desde sempre manifestou a sua religiosidade e fé em variadas formas de piedade que rodeiam a vida sacramental da Igreja, tais como as procissões. Elas têm sabor evangélico, sabedoria humana, enriquecem a vida cristã. Embora não a substituam, pois é-lhe muito superior, estas manifestações são um prolongamento da vida litúrgica da Igreja. Têm em conta os seus tempos litúrgicos, harmonizam-se com a liturgia, dimanam dela e nela introduzem o povo para o fazer progredir no conhecimento do mistério de Cristo (cf. CIgC1674-1676).

Na própria celebração da Eucaristia, há procissões significativas: a de Entrada, a do Evangelho, a do Ofertório, a da Comunhão, a que se faz, depois da celebração da Palavra, para o Batistério, para o Batismo, a de Quinta-Feira Santa, levando solenemente o Santíssimo para o lugar da Reserva, a de Sexta-Feira Santa para adorar a cruz, a da Vigília Pascal, seguindo o Círio, símbolo de Cristo Luz do mundo. Estas são no interior da igreja. Mas também há procissões que, quando é possível e prudente, se fazem pelos caminhos ou estradas das povoações. Estas procissões, que a comunidade cristã organiza e nas quais caminha, devota e festivamente, tem uma organização disciplinada e muito própria, partindo sempre do reconhecimento dos dons recebidos e da necessidade de dar graças por isso, adorando e glorificando a Deus. Ao longo do ano, são significativas as procissões da Candelária, a do Domingo de Ramos, a do Corpo de Deus, que é a mais solene de todas as procissões, as da Quaresma e Semana Santa. Outras há, fruto da religiosidade popular, como as procissões das velas, as peregrinações a santuários marianos ou em honra dos próprios santos, com imagens ou relíquias. Os santos não se adoram, adora-se e agradece-se a Deus pelas graças que lhes concedeu para que se tornassem santos e pede-se a Deus que conceda, também a nós, as graças para que possamos, como eles, alcançar a santidade e a plenitude da vida. A centralidade é sempre Cristo Jesus, cuja cruz, instrumento da nossa Redenção, faz sempre parte de qualquer procissão. Nada impede, porém, que peçamos à Virgem e aos santos que intercedam por nós junto do Senhor. Por impossibilidade de vária ordem, nas exéquias, já é rara a procissão da casa do falecido para a Igreja. Se não há cremação, maior ou menor, de carro ou a pé, ainda se vai mantendo a da igreja para o cemitério. Também é da tradição cristã haver outras procissões, como, por exemplo, a pedir chuva, a pedir colheitas abundantes, ou por motivos de fome, pestes, calamidades, penitência…

Uma procissão, se é um rito externo, visível e público, é também um sinal de uma realidade mais profunda. É uma realidade espiritual, uma expressão de fé, de piedade, de devoção, de amor, de confiança, de esperança. Embora sejam ambas sinal da nossa condição de peregrinos, uma procissão não é a mesma coisa que uma peregrinação, embora possamos apontar vários elementos comuns. A procissão encerra um grande valor simbólico, é comunitária, está associada a dinâmicas festivas e populares, tem muitos intervenientes, muitos participantes, alguns espectadores. Quando bem preparadas, têm beleza e arte, silêncio e recolhimento, andamento e porte respeitoso, é expressão de fé. A peregrinação, na maior parte dos casos, se também tem cariz espiritual, individual ou em grupo, é mais livre e mais despojada, facilita a partilha de experiências com os outros peregrinos, convivem, enfrentam as condições climáticas, abrem-se a outros mundos e a outros elementos apreciáveis, como o das tradições locais, da arte e da cultura, da beleza dos espaços geográficos, das paisagens e monumentos, e a outros aspetos que sempre se exploram.

Neste caminhar para a Páscoa, em muitos locais, as comunidades cristãs organizam, participam e vivem religiosamente a Procissão do Senhor dos Passos, unindo a oração e os seus passos nos caminhos da conversão, com os olhos postos no mistério da Paixão e Morte de Cristo Jesus, o único mediador entre Deus e os homens. Nesse andamento processional a caminho do Calvário, são significativos o gesto simbólico e a Palavra evangélica no momento do encontro de Jesus com sua Mãe. Unindo-se, de certo modo, a cada homem, Jesus tomou sobre si os pecados dos homens, serviu, sofreu e deu a sua vida como resgate por todos e a cada um convida a tomar a sua cruz de cada dia e a seguir os seus passos: “Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34-35).

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Antonino Dias
Antonino Dias
“É a logica que faz prestar atenção ao clamor do pobre, do mais fraco, do marginalizado, lógica de quem se opõe à violência dos que se servem da riqueza e do poder, da injustiça e da indiferença para humilhar e explorar os outros”, disse D. Antonino Dias - 22/11/2019".

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