Oito peritos independentes das Nações Unidas (ONU) instaram ontem, terça-feira, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e a União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) a suspender a selecção nacional de Israel das competições internacionais, alegando que o país comete genocídio no território palestiniano ocupado. O apelo foi formalizado num comunicado conjunto, divulgado em Genebra.
Relatório recente aponta para genocídio em Gaza
Entre os subscritores encontra-se Francesca Albanese, relatora especial da ONU para a Palestina, que tem criticado a actuação israelita em Gaza nos últimos dois anos. O grupo recorda que a Comissão de Inquérito das Nações Unidas sobre o Território Palestiniano Ocupado publicou, na semana passada, um relatório onde conclui que Israel «está a cometer genocídio em Gaza».
O documento também cita uma decisão de 2024 do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), na qual foi sublinhado que todos os Estados têm obrigação legal de agir contra crimes de genocídio, independentemente da sua posição geográfica ou política.
«Desporto não pode normalizar injustiças»
Os peritos sublinham que o desporto internacional não deve «virar a cara a graves violações dos direitos humanos», advertindo que as plataformas mediáticas do futebol não podem servir para normalizar situações de injustiça.
«As selecções nacionais que representam Estados que cometem violações massivas dos direitos humanos podem e devem ser suspensas, como aconteceu no passado», refere o comunicado, lembrando exemplos históricos de afastamento de países em contextos de violação grave do direito internacional.
Apelo a Estados e organizadores de eventos
O grupo alerta ainda os Estados que acolhem competições internacionais, bem como aqueles onde se encontram sediadas organizações desportivas globais, para a obrigação de não permanecerem neutros perante um «crime grave».
Sublinhando que a responsabilidade deve recair sobre o Estado de Israel e não sobre os atletas, os peritos defendem que «os jogadores não podem suportar as consequências das decisões do seu governo». Assim, rejeitam qualquer forma de discriminação ou sanção baseada na origem ou nacionalidade individual dos desportistas.
Subscritores e contexto internacional
Além de Francesca Albanese, assinam o apelo Alexandra Xanthaki, relatora para os direitos culturais, K.P. Ashwini, relatora para o racismo e a xenofobia, e quatro membros do Grupo de Trabalho da ONU sobre empresas e direitos humanos.
A posição surge num momento em que cresce a pressão internacional contra Israel. Os ataques conduzidos pelo Hamas em 7 de Outubro de 2023 provocaram cerca de 1 200 mortos e resultaram em mais de duas centenas de reféns. A resposta militar israelita já causou mais de 65 000 mortos em Gaza, destruiu a maioria das infra-estruturas civis e obrigou centenas de milhares de pessoas a abandonar as suas casas.
Israel mantém ainda o bloqueio à entrada de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 400 pessoas morreram por desnutrição e fome, segundo dados de agências da ONU, a maioria das vítimas sendo crianças.
Pressão também em outras áreas culturais
O debate sobre a participação israelita não se restringe ao futebol. No âmbito cultural, vários países ameaçaram boicotar o Festival da Eurovisão de 2026, caso Israel fosse admitida como concorrente. O precedente reforça a pressão sobre organismos internacionais, cada vez mais desafiados a assumir posições face a violações de direitos humanos em conflitos armados.