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Portugal -1, Escravos- demais

Em pleno século XXI, Portugal, enquanto discute futebol e nos deliciamos com pernas de Secret Story al ajillo, milhares de pessoas são exploradas como peças descartáveis de uma máquina movida pela ganância. E, dizem-nos agora, a culpa é dos escravos.

De acordo com o Relatório de 2023 do Observatório do Tráfico de Seres Humanos, foram sinalizadas 229 vítimas em Portugal, das quais 29 eram menores, com uma média de idades de 12 anos. Estas pessoas, muitas vezes oriundas de países como Índia, Moldávia, Paquistão e Roménia, são atraídas por promessas de uma vida melhor, apenas para serem lançadas nas garras da exploração laboral. Números baixíssimos perante a realidade, mas a malta tem medo da queixa.

A agricultura, sector que tanto orgulha a nação embora não produza um tomate que se veja, esconde nos seus campos histórias de horror. Em Santarém, por exemplo, foram sinalizadas 23 vítimas destinadas à exploração laboral na agricultura. Homens e mulheres, reduzidos a ferramentas humanas, trabalham de sol a sol, sem direitos, sem voz, sem esperança.

E quem são os responsáveis por este flagelo? Empresas e patrões que, movidos pela ganância, fecham os olhos à dignidade humana. Afinal, por que pagar salários justos ou oferecer condições de trabalho decentes, quando se pode explorar a miséria alheia para aumentar os lucros? A escravatura moderna é um negócio lucrativo, e há quem não hesite em sujar as mãos para encher os bolsos.

Mas não nos esqueçamos da cumplicidade silenciosa de uma sociedade que prefere olhar para o lado. Quantos de nós questionamos a origem dos produtos que consumimos? Quantos nos importamos com as condições de trabalho daqueles que constroem o nosso conforto? A indiferença é o terreno fértil onde floresce a exploração.

É irónico pensar que, num país que se orgulha de ter abolido a escravatura há séculos, ainda permitimos que seres humanos sejam tratados como propriedade. Talvez seja hora de actualizar os manuais de história e incluir um capítulo sobre a hipocrisia contemporânea.

Aos empresários que ainda praticam estas atrocidades, um conselho: invistam em correntes e chicotes mais modernos – quem sabe até digitais, para acompanhar os tempos. Afinal, a inovação é a chave do sucesso, não é verdade?

E para os patrões das cadeias de distribuição que se orgulham de explorar a desgraça alheia, uma sugestão: um prémio anual para o maior tirano corporativo! Poderia ser uma estatueta em forma de dormitório T1 com 50 pessoas lá dentro, impresso em 3D, para decorar o escritório e impressionar as visitas.

Em suma, enquanto continuarmos a fechar os olhos e a tolerar estas práticas, seremos todos cúmplices de uma escravatura que teima em não desaparecer. E assim, o país dos poetas e navegadores torna-se também o país dos novos senhores de escravos. E depois o problema está na rua do Benformoso e nas cenas canalhas que o governo inventa para dar gás ao Ventura.

Hipócritas.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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