O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) admite convocar manifestações se o governo não se comprometer com o que cumpriu nos últimos dias. Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Álvaro Mendonça e Moura realçou que é difícil imaginar que um próximo executivo possa fazer pior à agricultura do que aquilo a que se assistiu nos últimos anos.
O presidente da CAP avisa que se Governo não cumprir promessa de 440 milhões, “será a própria CAP” a promover manifestações. Contudo, Álvaro Mendonça e Moura não disse se os protestos independentes dos agricultores das últimas semanas são para continuar, mas deixou uma garantia: se os 440 milhões prometidos ao setor pelo Governo não forem pagos, e se a reprogramação negociada Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) não chegar a Bruxelas, “será a própria CAP (Confederação dos Agricultores Portugueses)” a promover novos protestos.
“Se o Governo não cumprir aquilo que nos prometeu há dias, não tenham dúvidas de que será a própria CAP a dizer que temos de nos manifestar”, disse em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios Álvaro Mendonça e Moura. “Agora, se me pergunta ‘e se o Governo não cumprir? Então cá estaremos para o dizer publicamente e onde for necessário e obviamente teremos que adotar outra via”, acrescentou, ressalvando a necessidade de tempo para que o pagamento de verbas seja aprovado ao nível da União Europeia.
Mendonça e Moura defendeu que o principal problema dos agricultores, mais do que o de receber os fundos europeus, é sobretudo uma questão de preços e de conseguir “ganhar dinheiro”.
“O que realmente importa aos agricultores é que o seu produto seja devidamente valorizado na cadeia de valor do agroalimentar e dos produtos florestais”, defendeu, acrescentando que “é preciso que haja uma repartição equitativa do valor na cadeia alimentar”
O responsável da CAP defendeu que, caso um aumento nestes rendimentos se verifique, será possível aumentar os salários do setor, mostrando-se confiante de que esse valor pode chegar a um salário mínimo de 1000 euros dentro de quatro anos e lembrando que, no contexto europeu, há espaço para crescer. “É preciso não esquecer que a nível europeu, o rendimento do agricultor é mais ou menos 50% da média do rendimento geral”, disse.
Consenso dos partidos para mudar
Mendonça e Moura considerou que as eleições do próximo dia 10 de março são extremamente importantes e representam uma chance de “saber se os portugueses querem o mesmo ou querem mudar”. Em todo o caso, o Presidente da CAP mostrou-se confiante de que, seja qual for a configuração de governo que saia das próximas legislativas, há um consenso pluripartidário sobre a necessidade de mudar a situação na agricultura.
O presidente da CAP falou ainda sobre a situação atual de seca no Algarve. Admitindo que a chuva que ainda possa vir a cair evite os cortes previstos na agricultura, Mendonça Mendes sublinhou que, a existirem cortes, estes têm de promover um equilíbrio entre as diferentes atividades económicas, tecendo críticas a um eventual desequilíbrio entre a agricultura e o turismo. “Não posso ser proibido de plantar um determinado pomar e o meu vizinho ser autorizado a construir um campo de golfe”, afirmou.