A CP confirmou que a primeira das 22 novas automotoras regionais encomendadas à Stadler chegará a Portugal no final deste ano, com homologação e início de entregas no segundo semestre de 2026.
A CP – Comboios de Portugal afirmou ontem que mantém prevista para o final de 2025 a chegada ao país da primeira das 22 automotoras regionais contratadas à fabricante suíça Stadler. Os ensaios de homologação e a entrega das primeiras unidades deverão decorrer na segunda metade de 2026.
Segundo a transportadora, a encomenda integra 12 automotoras bimodo, com tracção eléctrica e a gasóleo, e dez unidades eléctricas, num contrato de 158 milhões de euros assinado em Outubro de 2020. A aquisição contempla ainda peças de reserva e manutenção preventiva e correctiva durante um período mínimo de três anos, bem como formação técnica para o pessoal.
Encomenda visa reforçar serviços regionais
As automotoras destinam-se sobretudo às linhas do Oeste e do Alentejo, procurando reforçar a oferta e garantir maior fiabilidade no serviço. A CP sublinha que o investimento se insere na estratégia de renovação da frota e de adaptação à electrificação progressiva da rede ferroviária nacional.
O modelo Flirt, escolhido para esta compra, é já utilizado em vários países europeus e é reconhecido pela capacidade de acelerar a operação, reduzir tempos de viagem e permitir maior conforto aos passageiros. As versões bimodo possibilitam a circulação em troços ainda não electrificados, assegurando ligações directas sem necessidade de transbordos.
Atrasos e negociação de novo calendário
Em Abril, fonte oficial da CP admitiu que, devido a «diversas contingências», a Stadler já não conseguiria cumprir o calendário inicial, que apontava para a chegada da primeira unidade a partir de Outubro deste ano e, posteriormente, duas por mês.
Face ao atraso, a empresa pública solicitou à fabricante suíça um plano de mitigação, tendo esta assumido o compromisso de apresentar um novo cronograma. Esse documento está em avaliação pela CP, que garante acompanhar de perto todas as fases do processo de fabrico, transporte e certificação.
Reacções locais e impacto regional
O possível adiamento gerou preocupação em autarcas, nomeadamente em Beja, onde o presidente da câmara, Paulo Arsénio (PS), enviou uma carta à administração da CP manifestando «grande apreensão». A região aguarda a entrada das novas unidades para reforçar as ligações ferroviárias e melhorar a mobilidade das populações.
O autarca defende que a modernização do material circulante é determinante para atrair mais passageiros e potenciar a coesão territorial, sobretudo em zonas com menor densidade populacional e oferta de transporte.
Ensaios até 2026 e operação plena
A CP prevê que os ensaios técnicos e administrativos de homologação das primeiras automotoras decorram até meados de 2026. A partir do segundo semestre desse ano, deverão iniciar-se as entregas sucessivas até completar o lote de 22 unidades.
A empresa considera que o reforço do parque permitirá melhorar a regularidade, reduzir avarias e aumentar a capacidade de resposta da oferta regional. A combinação entre tracção eléctrica e a gasóleo garantirá flexibilidade operacional, enquanto a transição gradual para electrificação plena contribuirá para metas ambientais e de eficiência energética.
Enquadramento histórico e comparação internacional
A frota regional da CP apresenta actualmente uma idade média superior a 40 anos, com várias unidades ainda em serviço desde a década de 1980. Modelos como as automotoras Allan e as UDD 0450 continuam a operar em linhas não electrificadas, registando limitações de velocidade, conforto e eficiência energética.
A aquisição das Stadler Flirt coloca Portugal em linha com práticas de modernização seguidas por países como Espanha, Suíça e Noruega, onde este modelo já opera com taxas de pontualidade superiores a 95 por cento e custos de manutenção reduzidos em cerca de 30 por cento face a material mais antigo.
Especialistas em mobilidade salientam que a chegada destas unidades poderá reduzir em até quinze minutos alguns percursos regionais, além de oferecer melhores condições de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, climatização eficiente e sistemas de informação ao passageiro em tempo real.
Se a calendarização revista for cumprida, a CP estima ter toda a frota operacional até ao final de 2027, o que representará a renovação mais significativa do seu parque regional desde a década de 1990.