Os docentes do 3.º ciclo e do ensino secundário em Portugal registam uma idade média de 51 anos, situando-se entre os mais idosos da OCDE. O relatório internacional TALIS 2024 revela este valor, seis anos acima da média dos países da OCDE (45 anos). Portugal ocupa o segundo lugar nos países com corpo docente mais envelhecido.
Idade média sobe e proporção de veteranos aumenta
Segundo o «Teaching and Learning International Survey 2024», a idade média dos professores portugueses aumentou pelo menos dois anos face a 2018, e a proporção de docentes com mais de cinquenta anos cresceu em pelo menos oito pontos percentuais no espaço de sete anos. Estes dados confirmam a tendência de envelhecimento progressivo no sector docente.
Causas apontadas: troika, cortes e falta de substituições
O secretário-geral da Fenprof, Francisco Gonçalves, afirmou ao Jornal de Notícias que o envelhecimento docente resulta de políticas iniciadas na crise da troika, altura em que 27 mil professores foram forçados a deixar a profissão e muitos não foram substituídos. A Fenprof sustenta que esse desinvestimento prolongado levou ao quadro actual de escassez de renovação.
Em paralelo, o secretário-geral da FNE, Pedro Barreiros, alertou para as consequências futuras: nos próximos vinte anos, mais de metade dos professores em exercício poderá aposentar-se, provocando uma descontinuidade grave no sistema educativo. Por conseguinte, defende, não basta medidas pontuais; urge elevar as remunerações para tornar a carreira atractiva.
Experiência docente elevada, mas motivações em causa
O estudo indica que mais de sessenta por cento dos professores portugueses acumulam mais de vinte anos de serviço. Quase noventa por cento possuem habilitações de mestrado
— um nível formativo elevado. Contudo, cerca de vinte por cento dos docentes confessam que não escolheram ser professores por vontade inicial, ao lado da Coreia e Malta.
Adicionalmente, o relatório revela elevados níveis de satisfação: em Portugal, 94 por cento dos professores dizem estar satisfeitos com o seu trabalho, contra média global de quase 90 por cento. Contudo, entre os professores mais jovens, 27 por cento admitem que ponderam deixar a profissão nos próximos cinco anos, acima da média da OCDE (20 por cento).
Remunerações baixas, stress elevado e desvalorização social
O relatório da OCDE, complementado por análises nacionais, destaca que a profissão docente em Portugal sofre com salários baixos, sobretudo nos primeiros escalões, o que dificulta a atracção de novos candidatos. Portugal figura entre os países com docentes mais envelhecidos e maior dificuldade de recrutamento.
Entre os professores portugueses, 79 por cento apontam o excesso de trabalho administrativo como fonte de stress, e igual percentagem refere sentir pressão pelo desempenho dos alunos. Além disso, 26 por cento afirmam sofrer de stress elevado, e 16 por cento dizem que o trabalho prejudica gravemente a saúde mental.
A falta de reconhecimento social também é destacada: apenas 9 por cento consideram que a sociedade valoriza os professores, frente a 22 por cento na média da OCDE.
O alerta do Conselho Nacional de Educação
O Conselho Nacional de Educação já sublinhou a urgência de renovar e valorizar o corpo docente nacional. Na Recomendação n.º 3/2024, alerta para a necessidade de políticas concertadas de recrutamento e retenção de professores, bem como para a revitalização da atracção da carreira docente.
Segundo estimativas recentes, será preciso recrutar em média 3 450 novos professores por ano até 2030/31, totalizando uma necessidade acumulada de 34 508 docentes, correspondendo a quase 29 por cento dos que estavam em funções em 2018/19.
Desafio estrutural exige resposta estratégica
Portugal enfrenta um dilema estrutural: um sistema educativo fragilizado por envelhecimento e défice de entrada de novos professores. A rápida aposentação esperada e a escassez de novos candidatos, em parte explicada pelas condições salariais e de trabalho, ameaçam agravar esta crise.
Para inverter esta tendência, os especialistas defendem que é necessário reforçar os incentivos financeiros, melhorar as condições de trabalho, elevar o estatuto social do docente e promover políticas sustentadas de indução e apoio aos que entram na profissão.
No próximo ano lectivo, estará em causa não só a qualidade do ensino, mas a própria estabilidade do corpo docente nacional.