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Quando a Política Tem Medo das Contas

Num contexto de descrédito generalizado na política, a exigência de transparência na gestão dos dinheiros públicos deve ser encarada como um sinal de responsabilidade, e não como um ataque pessoal. Em Idanha-a-Nova, essa exigência foi recentemente colocada no centro do debate local por Pedro Rego, candidato do partido CHEGA à presidência da câmara municipal, ao defender a realização de uma auditoria financeira independente à gestão autárquica socialista dos últimos anos.

A proposta, legítima no plano político e democrática na sua essência, tem suscitado reações diversas. Isso é natural. O que não é natural – nem aceitável – é que tal proposta gere desconforto institucional. Fiscalizar as contas públicas não é crime; é dever.

Uma Questão de Interesse Público

Armindo Jacinto, presidente da câmara demissionário, não se recandidata. Em seu lugar, apresenta-se Elza Gonçalves, atual Chefe da Contabilidade e Tesouraria da autarquia e apoiada pelo próprio Jacinto. Esta acumulação de funções técnicas de relevo e agora uma ambição política justificam, mais do que nunca, que se conheça com rigor o estado financeiro da autarquia.

Convém sublinhar: a auditoria defendida por Pedro Rego não representa uma imputação de ilegalidade ou má gestão por parte de nenhum dos visados. Trata-se, sim, de uma medida preventiva, de natureza técnica e independente, com o objetivo de garantir a transparência da informação financeira e assegurar a confiança dos munícipes em qualquer futuro executivo.

A Auditoria Não É Um Julgamento. É Um Instrumento

A proposta de uma auditoria financeira externa, realizada por entidade habilitada e imparcial, é uma prática comum em regimes democráticos, e visa apenas verificar a conformidade da gestão com os princípios legais e orçamentais em vigor. Não se trata de criminalizar ninguém, mas sim de clarificar números, contratos, opções financeiras e compromissos assumidos.

Aliás, a realização deste tipo de auditorias está prevista na lei, e não depende da existência de suspeitas ou irregularidades. Basta a existência de fundado interesse público. E esse interesse, num momento de transição autárquica, é evidente.

Uma Democracia Não Se Faz de Silêncios

É compreensível que alguns encarem esta exigência com desconforto. Mas não se pode aceitar que, em 2025, a cultura do “não se fala” ou “não se mexe” ainda se sobreponha à vontade de saber. O município movimentou, ao longo dos últimos anos, milhões de euros em fundos públicos. Perguntar onde foram aplicados não é ofensa; é cidadania.

Pedro Rego assumiu essa responsabilidade com clareza. E por isso merece ser ouvido. Os cidadãos saberão avaliar se a proposta que apresenta visa promover a transparência ou apenas criar ruído. Mas cabe a todos garantir que quem questiona a gestão pública não é automaticamente silenciado ou descredibilizado.

Auditar é esclarecer. Não é acusar. É proteger o futuro com base na verdade dos números.

As eleições que se aproximam decidirão não apenas quem governa, mas como se governa. Se será com base na confiança cega, ou com base em factos claros e acessíveis a todos. A política não pode continuar a proteger-se de auditorias como se estas fossem ameaças. São, na verdade, um instrumento de proteção do próprio poder democrático.

Quem aspira a liderar uma autarquia deve estar disponível para prestar contas — mesmo que ainda não tenha chegado ao cargo.

Fernando Jesus Pires

Crónica de opinião independente – O Regiões

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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