Na manhã desta terça-feira, 19 de agosto, o fogo galgava encostas, aproximava-se perigosamente das casas nas aldeias do Pereiro e da Partida, em São Vicente da Beira, concelho de Castelo Branco. A aflição era real. A Proteção Civil estava mobilizada. Mas o Coordenador Municipal de Proteção Civil, Amândio Nunes, parecia ter outras prioridades
Enquanto a paisagem se tornava cinza e os habitantes sentiam a ameaça na pele, Amândio Nunes, o homem que devia liderar a resposta institucional, estava ocupado a partilhar conteúdos de campanha nas redes sociais. Sim, leu bem. Campanha política. Num momento em que o seu território ardia, o responsável pela proteção dos munícipes dedicava-se à promoção partidária.

Convém recordar: Amândio Nunes não é apenas o rosto da Proteção Civil Municipal local. É também o número três nas listas do Partido Socialista à Câmara Municipal de Castelo Branco nas eleições autárquicas deste ano. O que nos leva a uma questão óbvia, mas incontornável: como pode alguém conciliar uma função técnica e neutra, com um lugar de clara ambição política?
O caso assume contornos particularmente graves quando o timing revela uma desconexão total com a realidade no terreno. As redes sociais de Amândio Nunes registam atividade política precisamente no período crítico em que o fogo ameaçava vidas, bens e florestas. O simbolismo deste ato não pode ser ignorado. É uma imagem de abandono. Uma demonstração de prioridades trocadas. Uma afronta a quem, com meios escassos e coragem inabalável, tentava evitar o pior.
É urgente separar as águas entre serviço público e ambição eleitoral. O cargo de Coordenador de Proteção Civil Municipal exige presença, liderança e isenção. Exige foco absoluto na missão. A utilização do nome e da visibilidade institucional para alimentar uma campanha — seja de forma direta ou indireta — é eticamente reprovável e institucionalmente perigosa.
Enquanto o fogo alastra, o povo espera que quem tem responsabilidades esteja onde deve estar. Não atrás de um ecrã, mas à frente do problema. Não a ganhar votos, mas a merecer confiança.
Este episódio, lamentável e perturbador, merece mais do que crítica pública. Merece apuramento interno. Exige respostas do município. E, se necessário, intervenção da tutela. Não se trata de uma guerra partidária. Trata-se de responsabilidade democrática. De respeito pelos lugares e pelas pessoas.
Em tempo de crise, os silêncios são cúmplices e os desvios são traições. Quando se falha à missão pública, que ao menos se tenha a decência de não pedir votos.
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