A recente queda nos preços de compra de habitação na Zona Euro foi “suave e de curta duração”, revela o Banco Central Europeu (BCE) no mais recente boletim económico, publicado esta segunda-feira. Segundo os economistas da instituição, a descida registada foi menos acentuada e mais breve em comparação com os períodos anteriores, como os que ocorreram após a crise financeira de 2008 e a crise da dívida soberana.
De acordo com o BCE, enquanto os preços da habitação ainda permanecem elevados, a recente diminuição foi moderada, atingindo uma queda acumulada de 3% ao longo de um ano e meio. Este retrocesso ocorreu principalmente em países centrais da Zona Euro, com destaque para a Alemanha, contrastando com os 5% de depreciação verificados durante as crises passadas, que afetaram sobretudo os países periféricos da região.
O BCE sublinha que a descida dos preços afetou apenas 12 países da Zona Euro, em comparação com a crise financeira, quando os preços de habitação caíram em praticamente toda a região. A instituição financeira aponta ainda que a recuperação dos preços foi mais rápida que em ciclos anteriores, não apresentando as características de uma recessão generalizada.
Um dos principais fatores que contribuíram para essa recuperação mais ágil foi a rápida resposta do mercado, apoiada pela redução das taxas de juro do BCE desde junho do ano passado. Esta medida teve um efeito positivo na procura de habitação, o que ajudou a estabilizar e até aumentar os preços, especialmente devido à escassez de oferta, exacerbada pelos altos custos de energia e os problemas de abastecimento durante a pandemia.
Por outro lado, o BCE observa que o impacto das subidas das taxas de juro em 2022 não foi tão severo quanto em crises passadas. Embora a inflação tenha levado à necessidade de aumentar as taxas de juro, o efeito sobre os preços da habitação foi atenuado por balanços bancários saudáveis e rendimentos familiares sustentados.
Em relação ao financiamento, a crescente popularidade das taxas fixas de juros tem protegido muitos proprietários de aumentos bruscos nas suas hipotecas. Contudo, o BCE prevê que, com o fim dos contratos a taxa fixa e a substituição por novas hipotecas com taxas mais altas, muitos proprietários poderão enfrentar um aumento significativo das suas prestações.
Apesar das dificuldades enfrentadas por algumas famílias, o BCE destaca que as medidas de apoio implementadas durante a pandemia e a crise energética ajudaram a mitigar o impacto económico, permitindo que os rendimentos das famílias aumentassem mais do que os custos das suas hipotecas.
Embora a procura tenha se recuperado, o BCE alerta que o aumento dos preços da habitação, impulsionado pela escassez de oferta e pela redução das taxas de juro, não é uma tendência saudável para a economia a longo prazo. O risco é que a alta dos preços possa comprometer a acessibilidade à habitação para muitas famílias, criando uma pressão adicional sobre os mercados imobiliários da região.
As previsões para o futuro indicam que a recuperação dos preços pode continuar nos próximos meses, à medida que a procura mantém uma trajetória ascendente. No entanto, o BCE continuará a monitorizar de perto a evolução dos preços e os impactos desta recuperação sobre a economia da Zona Euro.