Rafael Grossi, atual diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), anunciou oficialmente a sua intenção de se candidatar ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. O diplomata argentino confirmou a decisão durante um encontro com jornalistas em Washington, afirmando de forma direta: “Vou candidatar-me a secretário-geral da ONU.”
A declaração surge no momento em que a comunidade internacional começa a preparar a sucessão do atual secretário-geral António Guterres, cujo segundo mandato terminará em 2027. Grossi, que dirige a AIEA desde 2019, já tinha deixado antever esta ambição, mas esta é a primeira vez que o assume publicamente e sem ambiguidades. “A roda começou a girar”, afirmou, acrescentando que o processo formal de apresentação da candidatura será iniciado nas próximas semanas.
Durante a sua visita a Washington, Grossi abordou o tema diretamente com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, sublinhando a importância do apoio político das grandes potências para a viabilidade da sua candidatura. A conversa decorreu num contexto marcado por tensões geopolíticas intensas e desafios globais crescentes, nomeadamente no que diz respeito à segurança nuclear.
Perfil de um diplomata de peso internacional
Diplomata de carreira, Grossi acumulou décadas de experiência no campo da energia nuclear, da diplomacia multilateral e da não-proliferação de armas. Representou a Argentina como embaixador na Áustria entre 2013 e 2019, tendo sido posteriormente eleito para liderar a AIEA, uma das agências mais estratégicas da ONU.
Durante o seu mandato, enfrentou situações de enorme complexidade, como o impasse com o Irão, país que suspendeu a cooperação com a agência após ataques a instalações nucleares e a escalada de tensão militar com Israel e os Estados Unidos. Ainda assim, Grossi conseguiu alcançar uma reaproximação delicada: na terça-feira, a AIEA anunciou o regresso dos seus inspetores ao Irão, tendo estes retomado esta manhã os trabalhos de inspeção na central nuclear de Bushehr, a principal unidade de produção de eletricidade do país.
A decisão foi tomada apesar da resistência de sectores conservadores no parlamento iraniano, que rejeitam qualquer colaboração com organismos internacionais. A entrada dos inspetores representa, assim, uma vitória diplomática significativa para Grossi, demonstrando a sua capacidade de mediar e restabelecer pontes mesmo em contextos hostis.
Uma corrida global com implicações profundas
A eventual eleição de Grossi para o cargo mais alto da ONU poderá redefinir prioridades na organização, especialmente no que toca à segurança global, ao controlo de armamento e à transição energética. A sua candidatura, embora ainda em fase preparatória, já começou a mobilizar apoios nos bastidores diplomáticos, numa altura em que vários países procuram posicionar-se para influenciar a escolha do próximo secretário-geral.
Com um currículo sólido, experiência comprovada em ambientes de crise e uma rede internacional consolidada, Rafael Grossi entra na corrida com argumentos de peso. A sucessão de António Guterres promete, assim, tornar-se um dos grandes temas da política internacional nos próximos dois anos.