Coimbra assiste a uma pré-campanha autárquica morna, com o debate político a ganhar expressão essencialmente nas redes sociais. Apesar da proximidade das eleições, o ambiente nas ruas permanece pouco marcado pela disputa eleitoral, enquanto o digital se assume como o principal palco para os candidatos darem a conhecer rostos, críticas e algumas ideias.
Ao contrário do que acontece tradicionalmente, com uma forte presença de cartazes e outdoors, a cidade apresenta apenas tímidas marcas visuais da campanha. As redes sociais, por outro lado, já estão a ser utilizadas de forma intensiva pelas principais forças políticas, embora ainda com escassez de propostas claras e programas definidos.
A coligação Avançar Coimbra, encabeçada pela ex-ministra Ana Abrunhosa e liderada pelo PS, destacou-se desde cedo com uma presença forte nas plataformas digitais e com cartazes já espalhados por várias zonas da cidade. A candidatura pretende recuperar a liderança da Câmara Municipal, que o partido perdeu em 2021, e tem apostado numa estratégia de proximidade, com a candidata a surgir em visitas a instituições, empresas, feiras e festas locais, mantendo publicações quase diárias.
Do lado do executivo atual, a coligação Juntos Somos Coimbra, liderada por José Manuel Silva (PSD), procura manter o poder autárquico através de um discurso assente no balanço do mandato. Após uma entrada discreta na campanha, a coligação intensificou a comunicação digital desde a apresentação oficial da recandidatura. O foco tem sido a defesa do trabalho feito nos últimos quatro anos e a ideia de que o executivo herdou um município fragilizado pela anterior gestão socialista, liderada por Manuel Machado.
Esta coligação reforçou-se politicamente com a entrada da Iniciativa Liberal, enquanto do lado do PS a coligação informal inclui o apoio do Livre, do PAN e do movimento Cidadãos por Coimbra (CpC), ainda que este último, por impedimento legal, não integre formalmente a coligação.
A candidatura da CDU, representada por Francisco Queirós, atual vereador com pelouros, mantém uma postura discreta nas redes sociais, mas marca presença em manifestações e ações ligadas à defesa de causas sociais e laborais, como os protestos dos motoristas dos SMTUC.
O Bloco de Esquerda regressa com força à disputa local, desta vez com o ex-deputado José Manuel Pureza como cabeça de lista. A sua candidatura já apresentou o programa eleitoral e tem procurado distanciar-se de ambas as coligações dominantes, criticando quer a herança socialista, quer o atual executivo PSD-led.
Por sua vez, o Chega apresenta Maria Lencastre Portugal como candidata, uma antiga apoiante de José Manuel Silva que agora aponta baterias ao executivo atual. A sua presença nas redes sociais tem sido marcada por vídeos que denunciam problemas do concelho, nomeadamente a degradação da Baixa de Coimbra, a crise habitacional e questões de higiene urbana.
O partido ADN apresenta Sancho Antunes, motorista dos SMTUC, como candidato. A sua presença mediática é ainda pouco significativa, mas a escolha simbólica de um trabalhador do setor dos transportes públicos poderá canalizar protestos de um setor marcado por greves e insatisfação.
As grandes ausências nesta fase prendem-se com a falta de divulgação de programas eleitorais por parte da maioria dos candidatos. Só o BE deu a conhecer, até agora, o seu plano completo. A discussão pública centra-se mais em críticas ao passado ou à atual governação do que na apresentação de soluções para o futuro de Coimbra.
Entre os temas que prometem marcar a campanha estão a falta de motoristas nos transportes públicos, os problemas sociais na Baixa da cidade, o elevado custo da habitação e o futuro da zona envolvente à estação de Coimbra-B.
O Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), que tem avançado com obras neste mandato, mas que é uma herança dos executivos socialistas anteriores, poderá igualmente ser um trunfo ou um alvo, consoante a perspetiva dos candidatos. Embora o sistema não deva estar a funcionar até outubro, as intervenções já transformaram parte da cidade, que alterna entre zonas modernizadas e outras que permanecem em estado de estaleiro.
À medida que se aproxima o arranque oficial da campanha, a expectativa recai sobre a transição do debate digital para o espaço público, esperando-se que as diferentes forças políticas clarifiquem as suas propostas para Coimbra, com menos foco na crítica e mais investimento na apresentação de soluções concretas.