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Redes sociais moldaram votos com desinformação

As redes sociais tornaram-se palco central nas campanhas eleitorais e influenciam decisivamente a escolha dos eleitores. Vídeos partidários, notícias falsas e algoritmos que reforçam crenças preexistentes estão a alterar o comportamento de voto e a ameaçar a integridade democrática

As plataformas digitais deixaram de ser apenas espaços de partilha social para se assumirem como arenas políticas com impacto real nos resultados eleitorais. De Washington a Brasília, passando por Londres e Madrid, o peso das redes sociais nas campanhas eleitorais é inegável — e perigoso.

Campanhas organizadas tiram partido dos algoritmos das redes sociais para alcançar públicos segmentados com mensagens personalizadas. Utilizam-se vídeos emocionais, muitas vezes sem base factual, partilhados em massa por perfis automatizados e contas falsas. Esta estratégia cria bolhas de informação, reforça preconceitos e mina a capacidade crítica dos eleitores.

A consultora britânica Cambridge Analytica foi um exemplo paradigmático: recolheu indevidamente dados de mais de 87 milhões de utilizadores do Facebook para construir perfis psicológicos e manipular a decisão de voto em campanhas como o referendo do Brexit e as presidenciais norte-americanas de 2016.

Durante as eleições presidenciais nos Estados Unidos em 2016, a propagação de notícias falsas superou, em muitos casos, o alcance das notícias legítimas. Um estudo da Universidade de Stanford concluiu que o impacto da desinformação pode ter sido suficiente para influenciar o resultado final, embora sem estabelecer uma relação directa de causalidade.

No Brasil, nas eleições de 2018, uma avalanche de mensagens falsas no WhatsApp difundiu teorias conspirativas, ataques pessoais e informações deturpadas sobre os candidatos. O Tribunal Superior Eleitoral brasileiro foi forçado a criar um grupo de resposta rápida à desinformação, mas reconheceu a dificuldade de controlar o volume e a velocidade da propagação.

Portugal ainda em terreno escorregadio

Em Portugal, os efeitos mais visíveis ainda são discretos, mas especialistas alertam para a vulnerabilidade do espaço digital. Vídeos partidários com forte carga emocional circulam amplamente no TikTok e Instagram, muitas vezes com informação truncada ou descontextualizada. As páginas de Facebook de partidos políticos ou seus apoiantes recorrem frequentemente a linguagem agressiva e a desinformação para mobilizar bases eleitorais.

Apesar dos alertas recorrentes, a literacia mediática continua baixa. A maioria dos utilizadores não valida a informação que recebe. Um inquérito do Eurobarómetro de 2024 indicava que apenas 27 por cento dos portugueses confirmam regularmente a veracidade do conteúdo antes de o partilharem.

O desequilíbrio provocado pela manipulação digital é real: partidos com menor presença nos media tradicionais conseguem ampliar a sua voz recorrendo às redes, por vezes à margem da verdade factual. Isso levanta questões sérias sobre igualdade de condições e transparência no processo eleitoral.

A Comissão Europeia tem reforçado a pressão sobre as plataformas para removerem conteúdos falsos e exigirem maior transparência na publicidade política. No entanto, o combate à desinformação é desigual e lento face à velocidade das redes.

O ambiente digital transformou-se num campo de batalha eleitoral onde a verdade muitas vezes perde para a eficácia emocional. A integridade dos processos democráticos depende cada vez mais da capacidade de resistir à manipulação e de educar cidadãos para distinguir factos de propaganda. As eleições futuras não se decidirão somente nas urnas, mas no feed de cada utilizador.

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