A Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA) está a dar um passo decisivo para o futuro da mobilidade na região, com a apresentação de um plano de reestruturação da sua rede de transportes públicos.
Esta iniciativa, que visa modernizar e expandir as ligações rodoviárias, é vista como um pilar fundamental para combater o isolamento, promover a coesão territorial e, crucialmente, fixar a população numa das áreas mais despovoadas do país. O plano, atualmente em fase de consulta pública, prevê um investimento significativo e uma mudança radical na forma como os alentejanos se movem, com o objetivo de criar um sistema mais eficiente, acessível e adaptado às necessidades do século XXI.
O projeto, que se enquadra na estratégia de desenvolvimento regional do Alto Alentejo, tem como principal meta responder a um problema crónico: a falta de conectividade entre os 15 concelhos que compõem a CIMAA. Longe dos grandes centros urbanos e com uma rede rodoviária que, em muitos casos, não acompanhou as exigências dos tempos modernos, a população tem enfrentado dificuldades diárias no acesso a serviços essenciais, como saúde, educação e emprego. O novo modelo de transportes surge, assim, como uma resposta urgente e ambiciosa a este desafio.
Mais linhas, mais horários e maior frequência
A proposta da CIMAA assenta em três pilares principais: o aumento do número de linhas, a expansão dos horários e o reforço da frequência das carreiras. De acordo com os documentos a que o nosso jornal teve acesso, o plano prevê a criação de novas rotas que cobrem não apenas as sedes de concelho, mas também as freguesias e aldeias mais isoladas. Esta abordagem inclusiva é um dos pontos mais elogiados pelos autarcas locais, que veem nesta medida uma oportunidade para garantir que nenhum cidadão fica para trás.
Além de ligar as áreas rurais aos centros urbanos, a nova rede vai também melhorar as conexões entre os municípios da CIMAA. Atualmente, viajar entre duas cidades alentejanas pode ser um verdadeiro desafio, com poucas opções de transporte e horários desajustados. O plano propõe um sistema intermunicipal mais robusto, com carreiras regulares que facilitam o acesso a serviços especializados, como hospitais ou universidades, localizados em cidades como Portalegre ou Elvas.
O investimento no transporte escolar é outra das prioridades. O documento destaca a necessidade de garantir que todos os alunos, independentemente da sua residência,
tenham acesso facilitado às escolas, o que é visto como um passo crucial para combater o abandono escolar e promover a igualdade de oportunidades. A CIMAA planeia criar linhas de transporte escolar específicas e adaptar os horários das carreiras regulares para se alinharem com os horários escolares.
Tecnologias e sustentabilidade: o futuro dos transportes no Alentejo
A reestruturação da rede não se limita à expansão física das linhas. A CIMAA pretende também investir em tecnologia para modernizar o serviço. A introdução de sistemas de bilhética eletrónica, aplicações móveis para a consulta de horários em tempo real e a possibilidade de pagamentos por via digital são algumas das inovações previstas. Estas medidas visam tornar o uso dos transportes públicos mais cómodo e intuitivo para os utentes.
A sustentabilidade ambiental é outro dos temas centrais.
A CIMAA compromete-se a integrar na nova rede veículos mais eficientes e menos poluentes, contribuindo para a redução da pegada de carbono da região. A longo prazo, a ambição é introduzir veículos elétricos ou movidos a energias renováveis, alinhando a estratégia de mobilidade com os objetivos nacionais e europeus de transição energética.
O presidente da CIMAA, que não quis ser identificado, sublinha a importância do projeto: “Não se trata apenas de um plano de transportes. É um projeto de coesão territorial e de desenvolvimento económico. Ao melhorar a mobilidade, estamos a criar as condições para que as pessoas queiram viver e trabalhar no Alto Alentejo, estamos a dar esperança às nossas comunidades”. Acreditam que o projeto será aprovado.
O desafio da implementação e o financiamento
Apesar do otimismo, a implementação do plano apresenta desafios consideráveis, sobretudo a nível financeiro. O custo da reestruturação é elevado e a CIMAA está a negociar o acesso a fundos comunitários, nomeadamente através do Programa Operacional Regional Alentejo 2030. A obtenção de financiamento é crucial para que o projeto saia do papel e se torne uma realidade.
A fase de consulta pública, que termina em breve, é uma oportunidade para a população e as entidades locais darem o seu contributo. As sugestões e críticas recebidas serão analisadas e, se aplicável, integradas na versão final do plano. A CIMAA tem feito um esforço para envolver a comunidade, realizando sessões de esclarecimento e divulgando o projeto nos canais de comunicação locais.
A reestruturação da rede de transportes públicos do Alto Alentejo é mais do que um projeto de mobilidade; é um investimento no futuro da região. Ao ligar as pessoas e os territórios, a CIMAA espera combater a desertificação e construir uma região mais dinâmica, resiliente e atrativa.
O sucesso deste plano pode servir de modelo para outras comunidades intermunicipais, mostrando que a mobilidade pode ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento regional. A esperança é que, em breve, a frase “estou à espera do autocarro” se torne sinónimo de uma mobilidade eficiente e acessível, e não de um problema.