O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, anunciou um conjunto de medidas “importantes e contundentes” contra a corrupção, numa tentativa de conter a crise política que ameaça a sua continuidade à frente do Governo e de responder às exigências dos partidos que o apoiam.
A proposta será apresentada esta quarta-feira no parlamento, numa sessão pedida pelo próprio Sánchez, destinada a dar explicações sobre as suspeitas de corrupção que envolvem dirigentes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e membros do seu executivo. O caso, tornado público a 12 de junho através de um relatório policial, levou à prisão preventiva de Santos Cerdán, até então o número três do PSOE, e à constituição como arguido do ex-ministro José Luis Ábalos.
Este escândalo despoletou uma das mais graves crises políticas desde que Sánchez assumiu o cargo. Segundo analistas e comentadores políticos, esta é a primeira vez que a sua liderança enfrenta um risco real de colapso.
Na véspera da apresentação das medidas, a porta-voz do Governo e ministra da Educação e do Desporto, Pilar Alegría, afirmou que o pacote legislativo integra propostas avançadas pelos partidos que reinvestiram Sánchez como primeiro-ministro em novembro de 2023. Contudo, não adiantou detalhes sobre o conteúdo das medidas.
Sánchez reconheceu no sábado que o momento é de enorme dificuldade para o Governo e para o partido. Durante uma reunião da comissão federal do PSOE, em Madrid, o primeiro-ministro confessou estar “com o coração tocado”, mas garantiu manter “a determinação intacta” para enfrentar a crise. Rejeitou a demissão e reafirmou a intenção de concluir a legislatura, que termina em 2027.
“Estou consciente de que estes são dias difíceis para todos, mas a alternativa a este Governo seria uma coligação de extrema-direita entre o Partido Popular e o Vox, que já aplicaram políticas de retrocesso social, cortes de direitos e negação das alterações climáticas em várias regiões e municípios”, afirmou.
O chefe do Governo pediu desculpa aos espanhóis e à militância socialista por ter confiado em pessoas que, segundo disse, “não mereciam essa confiança”. Assegurou também que o PSOE “não é um partido corrupto” e prometeu total colaboração com a justiça.
A resposta que Sánchez apresentar esta quarta-feira será decisiva para o futuro imediato da legislatura. Os partidos que compõem a atual coligação governativa — uma geringonça com oito formações — mantêm, por agora, o apoio, mas exigem mudanças profundas. Entre as críticas mais duras está o Somar, parceiro de coligação, que já admite a necessidade de uma moção de confiança caso as explicações e medidas apresentadas sejam insuficientes.
Yolanda Díaz, vice-presidente do Governo e dirigente do Somar, afirmou recentemente que “Espanha tem hoje um problema político” e que a situação “é já um problema de país”. Considerou ainda que a resposta dada até ao momento pelo primeiro-ministro tem sido insuficiente e exigiu uma viragem na forma como o Governo enfrenta a crise.
Pedro Sánchez joga esta semana a sua sobrevivência política num parlamento onde a sua maioria depende de equilíbrios frágeis. O pacote anticorrupção poderá ser a última oportunidade de restaurar a confiança dentro e fora do partido e travar o avanço das forças da direita e extrema-direita em Espanha.