Os desafios no acesso a cuidados de saúde em Portugal marcam o final de 2024, com seis serviços de urgência encerrados entre esta terça-feira, 31 de dezembro, e quarta-feira, 1º de janeiro de 2025. Os encerramentos afetam sobretudo as áreas de Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, de acordo com dados divulgados pelo Portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS)
Entre os hospitais afetados, destacam-se o Beatriz Ângelo, em Loures, e os Distritais de Torres Vedras e Peniche, cujas urgências pediátricas estiveram encerradas ao longo desta terça-feira. Em Ginecologia e Obstetrícia, os hospitais de Abrantes e Caldas da Rainha tiveram os serviços fechados, enquanto o Hospital de Peniche também encerrou a urgência geral.
Na quarta-feira, dia de Ano Novo, as urgências do Hospital de Peniche serão reabertas, mas os serviços geral e pediátrico do Hospital de São João da Madeira estarão fechados.
Urgências Referenciadas e Limitações
O número de urgências referenciadas, ou seja, aquelas que permanecem abertas mas atendem apenas casos internos ou reencaminhados pelo INEM e pela Linha SNS 24, aumentará no dia de Ano Novo, passando de 10 para 11. Apesar dessas limitações, o número total de serviços abertos permanece em 188.
Entre os hospitais com urgências sob regime referenciado estão o Amadora-Sintra, Cascais, Santa Maria e São Francisco Xavier, ambos em Lisboa, além do Garcia de Orta, em Almada, e São Bernardo, em Setúbal. Essas unidades atenderão apenas casos classificados como urgências internas ou referenciados pelos serviços de emergência.
O Hospital Amadora-Sintra, por exemplo, teve a urgência pediátrica referenciada em horários específicos: entre 00:00 e 08:00 e das 20:00 às 24:00. Já na quarta-feira, o Hospital de Beja terá a urgência geral referenciada no período noturno, entre 20:00 e 24:00.
Impactos Durante as Festividades e Recomendação à População
A Direção Executiva do SNS reforça o apelo aos cidadãos para que, antes de se dirigirem a uma unidade de urgência, entrem em contacto com a Linha SNS 24, a fim de evitar deslocamentos desnecessários e garantir o atendimento adequado.
A situação repete-se após um Natal marcado por desafios semelhantes. No dia 25 de dezembro, 11 serviços de urgência estavam encerrados, enquanto outros 12 operavam sob condições restritas, atendendo apenas pacientes referenciados. As regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve foram as mais afetadas.
A sobrecarga nas urgências, aliada à falta de recursos, resultou em tempos de espera elevados, como registrado no Hospital de Loures, onde pacientes aguardaram em média oito horas para atendimento, bem acima do tempo recomendado de 60 minutos.
Aumento de Infeções Respiratórias Agrava a Situação
O encerramento das urgências ocorre num período de alta incidência de infeções respiratórias agudas em Portugal. De acordo com o Boletim de Vigilância Epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a taxa de infeções respiratórias graves está em crescimento, com uma incidência de 10,2 casos por 100.000 habitantes na semana de 16 a 22 de dezembro.
Portugal está entre os oito países europeus com as maiores taxas de casos positivos para gripe, superando os 10%. Durante a mesma semana, 377 casos positivos para o vírus da gripe foram diagnosticados, com predominância do tipo B (333 casos).
Esse aumento coincide com as festividades de Natal e Ano Novo, momentos propícios para ajuntamentos e maior propagação de vírus respiratórios.
Recomendações da DGS à População
A Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu recomendações para minimizar a propagação das infeções. Em publicação na rede social X, a entidade pediu o uso de máscaras por pessoas com sintomas como tosse, febre e dificuldade respiratória, além do distanciamento físico e a redução do tempo em ambientes fechados ou aglomerados.
Para quem apresentar sintomas persistentes, a DGS orienta que entre em contacto com a Linha SNS 24 antes de procurar uma unidade de saúde.
Um Sistema de Saúde Sob Pressão
A combinação entre o aumento de infeções respiratórias e o encerramento de urgências hospitalares expõe as fragilidades do sistema de saúde português. Enquanto se aguarda por soluções estruturais, a orientação para a população é redobrar os cuidados preventivos e buscar informações antes de recorrer às urgências.