Incêndios: Empresas de pirotecnia denunciam impacto devastador das proibições generalizadas e exigem diálogo com o Governo
A Associação Nacional de Empresas de Produtos Explosivos (ANEPE) criticou duramente esta quarta-feira a aplicação indiscriminada das medidas de alerta de incêndio impostas pelo Governo em todo o território nacional. Em causa estão proibições de espetáculos pirotécnicos, que incluem cidades e zonas costeiras onde, segundo a associação, “o risco de incêndio é praticamente nulo”.
Num comunicado enviado à agência Lusa, a ANEPE manifestou preocupação pelos “efeitos devastadores” que estas medidas estão a causar num setor cuja sobrevivência depende, em grande parte, da atividade durante os meses de verão. “Esta época representa mais de metade do volume de negócios anual e estão em causa cerca de 15.000 postos de trabalho diretos e indiretos”, alertou a associação.
A associação relembrou que, por imposição legal, não se realizam espetáculos pirotécnicos em áreas florestais há quase duas décadas, sublinhando que a pirotecnia não deve ser responsabilizada por um problema cuja origem reside, sobretudo, na falta de gestão florestal e nos efeitos extremos das alterações climáticas. “O setor está solidário com o país neste momento de tragédia e reafirma que a segurança é prioridade absoluta”, reforçou a ANEPE. No entanto, considera inaceitável que o setor esteja a ser penalizado em áreas urbanas e costeiras, onde os riscos são residuais.
A associação considera essencial que as decisões governamentais passem a basear-se em critérios técnicos claros e objetivos, como os mapas de perigo de incêndio do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e avaliações concretas de cada local. “É fundamental distinguir zonas florestais de contextos urbanos e costeiros”, defende a ANEPE, recordando que todos os espetáculos obedecem já a planos de segurança rigorosos, validados por bombeiros, forças de segurança e autarquias.
Além dos impactos económicos, a ANEPE lamentou a ausência de diálogo por parte do executivo. “Muitas empresas e profissionais vivem hoje em suspenso, sem informação clara e a conhecer as decisões apenas pelos meios de comunicação social”, denunciou a associação.
A ANEPE apelou ao Governo para que abra urgentemente canais de diálogo com o setor, com vista a encontrar soluções equilibradas que salvaguardem simultaneamente a proteção das florestas e a sustentabilidade de milhares de postos de trabalho. “O setor não quer exceções de risco, mas sim bom senso e justiça nas decisões tomadas”, frisou.
Desde o início de julho, Portugal continental tem enfrentado uma vaga severa de incêndios rurais, com especial incidência nas regiões Norte e Centro. Até 20 de agosto, os fogos provocaram três mortos, incluindo um bombeiro, e dezenas de feridos, alguns em estado grave. Foram ainda destruídas habitações e explorações agrícolas, totalizando mais de 222 mil hectares de área ardida, segundo dados oficiais provisórios.
A situação de emergência levou o Governo a decretar sucessivos estados de alerta e a implementar proibições generalizadas, incluindo a suspensão de espetáculos com fogo-de-artifício, medida que agora motiva forte contestação do setor pirotécnico.