O Sindicato dos Jornalistas (SJ) apelou esta sexta-feira à Segurança Social e à Autoridade Tributária para que retirem a exigência de uma avaliação prévia, considerada dispendiosa e morosa, antes da venda judicial dos títulos da Trust in News (TiN), entre os quais se encontra a revista Visão.
A exigência de avaliação, imposta pelas entidades públicas, tem vindo a atrasar um processo já delicado e sem garantias de financiamento. O administrador de insolvência da TiN alertou para a ausência de verbas destinadas à realização dessa avaliação, o que coloca em risco a venda de activos editoriais com propostas concretas já em cima da mesa.
A assembleia de credores da TiN aprovou, no passado dia 1 de Outubro, a cessação de actividade da empresa. Nesse contexto, os principais credores solicitaram uma avaliação das publicações, incluindo o Jornal de Letras e a Visão, antes da sua venda. No entanto, o SJ considera esta exigência um entrave desnecessário que pode comprometer o futuro de projectos jornalísticos com potencial de continuidade.
O sindicato salientou que existem propostas de aquisição para ambos os títulos. No caso do Jornal de Letras, a proposta partiu do próprio director, José Carlos Vasconcelos. Para a Visão, um grupo de 15 jornalistas apresentou uma oferta de 40 mil euros, com o objectivo de manter o título sob direcção editorial independente e assegurada por profissionais da área.
Contudo, surgiu uma proposta concorrente, apresentada por Armando Batista, empresário da AEIOU, no valor de 100 mil euros. Embora superior financeiramente, esta proposta não garante a manutenção dos 19 postos de trabalho actuais na revista, nem prevê a reintegração dos profissionais que suspenderam os contratos após vários meses sem salários. Adicionalmente, segundo declarações públicas do empresário, a proposta prevê o fim da edição em papel, convertendo a Visão exclusivamente num site digital, o que o SJ considera uma descaracterização da publicação.
“O SJ defende um modelo de gestão editorial assegurado por jornalistas e considera essencial garantir a viabilidade económica das publicações para manter e reforçar as redacções”, sublinha o sindicato em comunicado. O apoio dado ao grupo de jornalistas da Visão incluiu apoio logístico, administrativo e jurídico, numa tentativa de preservar o carácter editorial da revista e os postos de trabalho.
O sindicato classificou como “doloroso” o processo de despedimento colectivo que ficou esta semana formalmente concluído, após a entrega da documentação ao Fundo de Desemprego por parte dos trabalhadores mais antigos da TiN. O processo tinha sido anunciado em Julho e afectou dezenas de profissionais.
“O SJ nunca poderá apoiar soluções que pretendam reduzir redacções ou desrespeitar os direitos adquiridos por quem ainda está no activo ou por quem teve de abandonar a profissão por falta de condições de subsistência”, reforçou.
A estrutura sindical não poupou críticas à falta de apoio político e institucional ao sector da comunicação social. “Lamentamos a indiferença generalizada e o silêncio da classe política. É revelador que, num país que injectou fundos em quase todos os sectores, a Comunicação Social tenha sido deixada com promessas vazias e medidas públicas que nunca saíram do papel”, concluiu.
O futuro da Visão, do Jornal de Letras e de outros títulos do universo TiN continua assim em suspenso, dependente da resolução de entraves administrativos e da escolha entre diferentes modelos de aquisição – um dos quais defendido pelos próprios jornalistas, que se propõem continuar a fazer jornalismo com independência, rigor e responsabilidade.







