O presidente do Infarmed, Rui Ivo, anunciou ontem, em audiência na comissão parlamentar da Saúde, a suspensão da comercialização das bombas de insulina automáticas que o Estado tinha adquirido. Esta decisão decorre de sérias preocupações de segurança que surgiram após alertas da associação de diabetologistas britânica e de relatos de reações adversas por parte da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP).
O programa em causa visava a distribuição de aproximadamente 15 mil dispositivos a pessoas com diabetes tipo 1, tendo sido lançada uma licitação para a compra de cerca de 2.000 bombas, adjudicada à empresa Medtrum. No entanto, as primeiras notificações de reações adversas surgiram a 3 de junho, levando à suspensão da compra a 14 de junho. Rui Ivo sublinhou que a principal responsabilidade do Infarmed é a segurança dos cidadãos que utilizam estes dispositivos, o que levou à decisão de não avançar com a sua generalização.
Em uma análise prévia realizada pela ADPD, foram detetados vários resultados erróneos associados às bombas automáticas, levando a autoridade nacional do medicamento a restringir a sua utilização a um “ambiente controlado” até que se esclareçam as anomalias. Apesar das alegações do fabricante de que as questões estavam relacionadas com as instruções de utilização e poderiam ser resolvidas, os especialistas do Infarmed não encontraram evidências suficientes para justificar a retoma da comercialização.
Rui Ivo também foi questionado sobre a possibilidade de adquirir dispositivos de outras empresas. Ele afirmou que o Infarmed não tem “nenhuma reserva” quanto a isso, desde que os novos dispositivos garantam as condições de segurança adequadas. Atualmente, existem três dispositivos disponíveis no mercado que se enquadram na categoria de autoadministração automática de insulina, e Rui Ivo sugeriu que outros poderão vir a ser introduzidos.
A APDP estima que cerca de 30.000 pessoas em Portugal têm diabetes tipo 1, sendo que aproximadamente metade delas tem interesse em utilizar bombas automáticas. No entanto, a meta de disponibilizar 2.500 bombas automáticas até ao final do ano é considerada irrealista, uma vez que apenas 500 dispositivos foram distribuídos até ao momento.
Esta situação levanta preocupações sobre a eficácia e a segurança das tecnologias de tratamento da diabetes, destacando a necessidade de rigorosas avaliações e a vigilância contínua na introdução de novos dispositivos no mercado.