A partir das 05:00 horas de Lisboa de ontem, a Ucrânia suspendeu o transporte de gás natural russo através do seu território, conforme anunciado anteriormente pelas autoridades ucranianas. Esta decisão está vinculada ao fim do contrato de fornecimento de gás, o qual a Ucrânia se recusou a renovar devido ao contexto de guerra com a Rússia, que dura já quase três anos.
Este contrato de fornecimento de gás representava uma fonte significativa de receitas tanto para a Rússia, que exportava o gás para países como Áustria, Hungria, Eslováquia e Moldávia, como para a Ucrânia, que arrecadava cerca de 700 milhões de dólares (aproximadamente 672 milhões de euros) anuais. No entanto, a Ucrânia, liderada pelo Presidente Volodymyr Zelensky, explicou que não podia permitir que a Rússia continuasse a gerar receitas enquanto mantinha uma agressiva política de guerra contra o seu território.
Em resposta, a Rússia afirmou que conseguirá sobreviver ao corte do fornecimento de gás através da Ucrânia. Embora o impacto imediato na União Europeia tenha sido classificado como “limitado” por fontes da Comissão Europeia, a situação representa uma mudança significativa nas rotas de abastecimento energético do continente. A Europa passará agora a ser abastecida com gás natural russo por meio de outras rotas, nomeadamente através da TurkStream e da sua extensão Balkan Stream, além de recorrer a importações de gás natural liquefeito por via marítima.
A decisão ucraniana de suspender o transporte de gás tem um impacto considerável no mercado europeu. Em 2023, as exportações russas através da Ucrânia representaram um volume de 14,65 mil milhões de metros cúbicos, com valores diários próximos dos 40 milhões de metros cúbicos. Este corte ocorre num contexto de aumento do preço do gás na Europa, que atingiu 50 euros por megawatt-hora, o maior valor registado em mais de um ano.
A reação dos países da União Europeia tem sido mista. A Polónia saudou o fim do transporte de gás russo pela Ucrânia, considerando-o uma vitória geopolítica, especialmente depois da adesão da Finlândia e da Suécia à NATO. Por outro lado, a Áustria, que tem contratos com outros fornecedores de gás e já estava preparada para a redução do abastecimento russo, afirmou que a situação não afetará a segurança energética do país. A Hungria, por sua vez, manifestou preocupação, mas a maior parte do gás que recebe da Rússia provém do TurkStream, minimizando assim o impacto.
Na Eslováquia, o impacto será mais grave, dado o grau elevado de dependência do gás russo. O primeiro-ministro, Robert Fico, alertou para as consequências drásticas da interrupção do transporte e destacou a necessidade de soluções urgentes. A situação é ainda mais crítica na Moldávia, que, devido a um litígio com a Rússia, já estava a sofrer com a interrupção parcial do fornecimento de gás. O governo moldavo declarou o estado de emergência, visto que o país, um dos mais pobres da Europa, depende fortemente do gás para o funcionamento da sua central térmica, que fornece cerca de 70% da eletricidade consumida.
Este desenvolvimento no setor energético europeu surge num momento de incerteza global, em que os países da União Europeia continuam a diversificar as suas fontes de energia, especialmente face à guerra na Ucrânia e à crescente tensão com a Rússia. O impacto económico e geopolítico desta mudança será monitorizado de perto, com a expectativa de que novos acordos e soluções alternativas sejam encontrados para garantir a estabilidade do abastecimento de energia na Europa.