Donald Trump ameaça despedimentos e cortes de fundos em estados democratas numa escalada de confronto político
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou esta semana o confronto com os estados liderados pelo Partido Democrata, ao ameaçar despedimentos em massa de funcionários públicos e o corte de milhares de milhões de dólares em financiamento federal. A escalada de tensões ocorre no meio de um impasse orçamental no Congresso, que já mergulhou o Governo federal numa paralisação parcial (shutdown) desde quarta-feira.
Trump acusou os democratas de bloquearem deliberadamente a extensão do financiamento ao Governo, numa jogada que descreveu como “uma oportunidade sem precedentes” para “limpar o pântano político”. A declaração foi feita na sua rede social, a Truth Social, onde revelou que está a trabalhar com o diretor do orçamento da Casa Branca, Russ Vought, para identificar “agências democratas” que poderão ser encerradas, de forma temporária ou definitiva.
“Nem acredito que os democratas de extrema-esquerda me deram esta oportunidade sem precedentes”, escreveu Trump, numa clara provocação à oposição.
Despedimentos iminentes e serviços públicos paralisados
A paralisação já afastou centenas de milhares de funcionários públicos cujas funções foram classificadas como “não essenciais”, com impactos visíveis na prestação de serviços por todo o país. As preocupações com a segurança aumentam, especialmente no setor da aviação. A Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo (NATCA) alertou para o risco de falhas na operação do espaço aéreo devido à escassez de pessoal.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, sublinhou os impactos económicos da paralisação, alertando que esta poderá afetar gravemente o Produto Interno Bruto (PIB), o crescimento económico e o emprego nos EUA.
Cortes selectivos em estados democratas
A administração Trump anunciou o cancelamento de 26 mil milhões de dólares em fundos federais prometidos a estados liderados por democratas, com destaque para Nova Iorque, que perderá 18 mil milhões. Entre os visados estão projetos de infraestrutura e energia que, segundo Trump, servem “a agenda climática da esquerda”.
O corte inclui ainda a eliminação de 7,6 mil milhões de dólares em subsídios a projetos de energia limpa em 16 estados — todos eles votaram na candidata democrata Kamala Harris nas últimas eleições presidenciais. Entre os projetos afetados encontram-se centrais de baterias, tecnologia de hidrogénio, redes elétricas inteligentes e sistemas de captura de carbono.
O Departamento de Energia confirmou o cancelamento de 223 projetos, alegando que estes não apresentavam viabilidade económica ou relevância estratégica para o país.
Califórnia entre os mais atingidos
A Califórnia, um dos principais alvos da medida, poderá ver comprometido o projeto ARCHES — uma iniciativa de hidrogénio com o apoio de 10 mil milhões de dólares do setor privado. O governador Gavin Newsom alertou que o corte ameaça mais de 200 mil empregos, acusando Trump de fazer chantagem política com consequências reais para as populações.
Russ Vought, diretor do orçamento da Casa Branca, reafirmou nas redes sociais que o objetivo é “cortar o financiamento à agenda climática da esquerda”, destacando que os estados atingidos — incluindo Califórnia, Colorado, Nova Iorque, Maryland, entre outros — são governados por democratas e votaram contra a proposta republicana para manter o governo em funcionamento.
Batalha no Congresso e pressão sobre os democratas
O projeto de lei orçamental apresentado pelos republicanos foi repetidamente rejeitado no Senado, onde, apesar da maioria republicana no Congresso, são necessários pelo menos oito votos democratas para alcançar os 60 necessários à sua aprovação.
Até ao momento, apenas três senadores democratas se juntaram aos republicanos nas sucessivas votações. A pressão política tem vindo a aumentar, com os republicanos a tentar forçar a oposição a ceder através da suspensão de fundos estratégicos para os seus estados.
O líder democrata da Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, acusou Trump de comportamento “irresponsável e pouco sério”, enquanto o republicano Mike Johnson criticou os democratas por se recusarem a dialogar.
Opinião pública dividida
Uma sondagem divulgada pelo Washington Post revela que 47% dos norte-americanos culpam Trump e os republicanos pelo impasse orçamental, enquanto 30% responsabilizam os democratas. O número restante encontra-se dividido ou indeciso, refletindo uma opinião pública polarizada perante o colapso das negociações em Washington.
Com o país a braços com uma paralisação federal e a retórica de Donald Trump a atingir novos picos de agressividade, o cenário político nos EUA caminha para uma fase de instabilidade prolongada, marcada por retaliações e ameaças mútuas, num clima pré-eleitoral cada vez mais tenso.