O fluxo de turistas europeus para os Estados Unidos está a sofrer uma queda sem precedentes, e a responsabilidade recai em grande parte sobre o Presidente Donald Trump. A Confederação Europeia das Associações de Agências de Viagens e Operadores Turísticos (ECTAA) alerta para um declínio acentuado na procura por este destino, tradicionalmente muito procurado pelos europeus, sobretudo após novos episódios de tensão política e medidas controversas da administração norte-americana.
Eric Drésin, secretário-geral da ECTAA, afirmou esta sexta-feira que a tendência negativa se agravou significativamente desde o início de 2025, com os dados mais recentes a apontarem para uma descida de 20% nas reservas para os EUA durante o mês de março. A declaração foi feita no primeiro dia da 13.ª Expo Internacional de Turismo de Macau, evento que decorre até domingo na região semiautónoma chinesa.
“O confronto verbal entre Trump e o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, em fevereiro, causou grande desconforto junto da opinião pública europeia”, explicou Drésin, sublinhando que, até então, a quebra era de apenas 10% em relação ao mesmo período de 2024.
Entre as causas do desinteresse europeu estão também as recentes decisões da Casa Branca em matéria de tarifas comerciais, bem como políticas discriminatórias que afetam diretamente a comunidade LGBTQ+. Pouco depois da sua tomada de posse, a 20 de janeiro, Donald Trump assinou ordens executivas que obrigam as agências federais a reconhecerem exclusivamente o sexo masculino e feminino, excluindo outras identidades de género.
Estes desenvolvimentos levaram diversos países europeus, incluindo Portugal, França, Dinamarca, Alemanha, Finlândia e Reino Unido, a emitir alertas específicos aos seus cidadãos que tencionem viajar para os Estados Unidos. As advertências referem-se tanto à aplicação rigorosa das normas de entrada como à possibilidade de detenções arbitrárias na fronteira. Há relatos de turistas europeus retidos até três semanas sem justificações claras.
A consultora Tourism Economics reviu em baixa as previsões para o turismo internacional nos EUA, estimando agora uma queda de 9,4% em 2025, face à projeção inicial de crescimento de 9%. Esta inversão acentuada está a afetar não apenas o turismo de lazer, mas também as viagens de negócios, que registaram um declínio expressivo. “A desaceleração da economia norte-americana contribui para este cenário. As empresas estão a cortar nas deslocações internacionais”, acrescentou Drésin.
O responsável europeu destacou ainda que a taxa de câmbio entre o euro e o dólar, desfavorável aos consumidores europeus, e a inflação elevada nos Estados Unidos agravam ainda mais o afastamento dos turistas. Apesar disso, Drésin mostra-se otimista quanto ao redireccionamento da procura para outras geografias. “Há uma oportunidade clara para a China se reposicionar como destino competitivo, oferecendo gastronomia, natureza e cultura a preços mais acessíveis.”
A perda de atratividade dos EUA enquanto destino turístico representa um desafio económico e reputacional significativo para o país, e lança dúvidas sobre a eficácia da atual estratégia política de Washington em manter os Estados Unidos como polo de atração global.