Há ausências que falam mais alto do que qualquer presença forçada. A inauguração da rotunda de São Fiel, na entrada da aldeia pela Avenida Frei Agostinho da Anunciação, foi uma dessas ocasiões. O momento marcante para a freguesia ficou manchado por uma ausência gritante: a do Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, eleito pelo Partido Socialista

A obra, de evidente simbolismo e valor comunitário, foi inteiramente sonhada, financiada e concretizada por cidadãos locais. Sem um cêntimo da autarquia. Sem uma pá da Junta Metropolitana. Sem um sinal do poder centralizado na cidade. Foi o povo que fez — e é precisamente por isso que se torna mais chocante o comportamento do Presidente da Câmara, que, apesar de ter sido convidado com semanas de antecedência, optou por não comparecer, alegando “indisponibilidade de agenda”.

Permita-se perguntar: indisponível para quê? Para o povo que representa? Para uma cerimónia que honrava o esforço e união de uma comunidade que, na ausência de apoio público, decidiu não cruzar os braços? O Presidente Leopoldo Rodrigues, cujo mandato tem sido marcado por uma notória obsessão por palco político e campanhas permanentes, perdeu aqui uma rara oportunidade de demonstrar respeito institucional e humildade política. Preferiu virar costas.

A atitude revela, em nossa opinião, não só desinteresse pelo que acontece fora dos holofotes urbanos, como também um certo desprezo implícito pela autonomia cidadã. Quando uma comunidade ergue com os seus próprios meios uma infraestrutura de utilidade pública, o mínimo exigível a um autarca é que se faça presente, não para colher louros — que claramente não lhe pertencem —, mas para reconhecer e enaltecer a iniciativa popular. Recusar tal gesto revela falta de visão política e, acima de tudo, falta de empatia.

Durante a cerimónia, o Presidente da Junta de Freguesia, Pedro João Serra, demonstrou a grandeza que se espera de um verdadeiro representante local. Com emoção e sentido de justiça, agradeceu aos promotores da obra e, em gesto simbólico, foi descerrada uma pedra de homenagem que ficará como testemunho do esforço coletivo e ao líder no final de mandato de Pedro João Serra, que soube partilhar este sonho como presidente da junta de freguesia de Louriçal do Campo. Esta rotunda não é só uma obra física; é uma resposta silenciosa — mas firme — ao abandono institucional que tantas aldeias enfrentam.

O silêncio e a ausência do Presidente da Câmara falam, assim, por si. Mas o povo também falou. E quando o povo fala com ações concretas, como fez em São Fiel, torna-se impossível ignorar — por mais que se evite estar presente.

Num tempo em que a confiança nas instituições políticas se encontra gravemente fragilizada, são estes gestos de cidadania que reabilitam o verdadeiro sentido de serviço público. O Presidente Leopoldo Rodrigues optou por faltar. A história, no entanto, não faltará em registar essa escolha.
