Portugal enfrenta desde 25 de Julho um aumento inédito da mortalidade, com uma média diária superior a trezentos óbitos. Segundo o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), morreram mais 950 pessoas do que seria expectável, número directamente associado à vaga de calor que afecta o país.
A médica de saúde pública Ana Paula Rodrigues, do INSA, adiantou que as regiões do Norte foram as primeiras a registar excesso de mortalidade. Nos últimos dias, os valores mais elevados concentram-se em Lisboa e Vale do Tejo e no Alentejo. O dia 29 de Julho registou trezentas e sessenta e duas mortes, enquanto a 7 de Agosto ocorreram trezentos e quarenta e nove óbitos.
Mortalidade em níveis sem precedentes
Há onze anos que não se verificava um número tão elevado de mortes relacionadas com calor extremo. Este episódio sucede a outra vaga intensa, no final de Junho e início de Julho, responsável por duzentos e oitenta e quatro óbitos em excesso. A sucessão de ondas de calor no espaço de poucas semanas aumentou a vulnerabilidade da população.
A maioria do território continental apresenta temperaturas acima dos trinta e dois graus, com vários distritos a rondar ou superar os trinta e oito. A situação é partilhada por diversos países europeus, obrigando governos a activar planos de emergência.
Como refrescar as casas sem ar condicionado
Especialistas em eficiência energética indicam várias medidas simples para manter a habitação fresca durante as vagas de calor. Entre as recomendações constam:
● Fechar estores e cortinas nas horas de maior exposição solar.
● Abrir janelas apenas de madrugada e durante a noite, aproveitando o ar mais fresco.
● Colocar toalhas húmidas penduradas em frente das janelas, que funcionam como barreiras térmicas.
● Usar ventoinhas em conjunto com recipientes de água gelada para baixar a temperatura local.
● Desligar aparelhos eléctricos desnecessários, que libertam calor residual.
● Criar zonas de sombra com plantas de interior ou toldos improvisados em varandas.
Estas medidas, embora simples, podem reduzir a temperatura interior em dois a três graus, fazendo diferença significativa para os grupos mais vulneráveis.
Alerta internacional de saúde
A Comissão Pan-Europeia do Clima e da Saúde, organismo ligado à Organização Mundial de Saúde (OMS), classificou o fenómeno como «emergência de saúde» à escala continental. O organismo destacou a necessidade de reforçar estratégias de prevenção e resposta rápida, recordando que as alterações climáticas agravam a frequência destes eventos extremos.
Peritos sublinham que o calor intenso aumenta a procura nos serviços de urgência, sobretudo por problemas cardíacos, pulmonares e renais. Além dos riscos físicos, as altas temperaturas comprometem o bem-estar psicológico: reduzem a qualidade do sono, intensificam a ansiedade e diminuem a função cognitiva.
População vulnerável em maior risco
Idosos, crianças, pessoas com doenças crónicas e cidadãos em situação de isolamento social são os mais afectados. As autoridades de saúde recomendam hidratação constante, refeições leves, vigilância de vizinhos mais frágeis e contacto imediato com os serviços de saúde perante sinais de descompensação.
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) recorda que a permanência em espaços climatizados públicos, como centros comerciais ou bibliotecas, pode constituir uma alternativa eficaz para quem não dispõe de condições em casa.
Monitorização contínua
O Instituto Ricardo Jorge continuará a actualizar diariamente os dados de mortalidade. O Governo indicou que avalia a revisão dos planos nacionais de contingência climática, de modo a responder com maior rapidez às vagas de calor cada vez mais frequentes.
A evolução da situação em Portugal será também acompanhada pela União Europeia, que estuda mecanismos conjuntos de resposta às crises de saúde pública provocadas pelas alterações climáticas.