Durante anos, a crença popular de que mergulhar no mar logo após uma refeição poderia causar uma “paragem de digestão” tem sido transmitida de geração em geração. No entanto, segundo o médico Ivan Munoz, especialista em medicina geral e familiar, essa ideia é um mito
Munoz esclarece que o verdadeiro perigo não reside na refeição em si, mas na temperatura da água. “No verão, uma das causas mais frequentes de ‘paragem de digestão’ é a entrada precipitada em água fria, o que pode originar um choque térmico”, afirma o especialista, num artigo publicado no portal da rede de saúde CUF.
O choque térmico, segundo Munoz, é responsável por uma diminuição repentina da circulação de sangue no cérebro, o que pode resultar num desmaio súbito. “Simultaneamente, também pode reduzir o fluxo sanguíneo no estômago, interrompendo o processo digestivo”, explica. Este fenómeno ocorre quando o corpo é exposto a uma mudança brusca de temperatura, seja de quente para frio ou vice-versa, afetando a capacidade do organismo de se autorregular.
A exposição de um corpo quente a água fria pode causar vasoconstrição, reduzindo o fluxo sanguíneo para o cérebro e órgãos vitais, o que em casos graves pode levar a desmaios, ‘paragem de digestão’, e até a um acidente vascular cerebral (AVC). Já o contrário, de frio para quente, pode resultar em vasodilatação, potencialmente levando a crises de hipotensão e desmaios.
Além da temperatura da água, Munoz também aponta o exercício físico intenso após uma refeição mais pesada como outra causa possível para a chamada ‘paragem de digestão’. Neste caso, o esforço físico redireciona o fluxo sanguíneo para os músculos, prejudicando a digestão e aumentando o risco de desconforto ou complicações.
Assim, a velha recomendação de esperar três horas após uma refeição antes de dar um mergulho carece de fundamento científico. O que realmente importa é a temperatura da água e a forma como o corpo é exposto a essas mudanças térmicas. Portanto, mais do que controlar o tempo de espera após a refeição, deve-se ter cautela com a temperatura da água e evitar mergulhos bruscos, especialmente em águas mais frias.