Quem assistiu, na última sexta-feira, à sessão da Assembleia Municipal de Abrantes, não pôde deixar de sentir vergonha alheia por tudo aquilo que se passou. Nada de novo, poderão dizer, mas é precisamente isso que deve ser denunciado. Normalizar o erro e as atitudes antidemocráticas, não pode, nunca, ser aceite por todos aqueles que defendem os valores básicos da democracia.
O condicionamento, as meias-verdades, a acusação e os ataques de carácter àqueles que têm coragem de fazer o diagnóstico certo e de colocar as perguntas que incomodam, dão corpo à frase usada por Winston Churchill, de que “a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras que foram tentadas”.
Talvez ele estivesse a referir-se a este tipo de exemplos, em que as maiorias absolutas se revelam as maiores inimigas da democracia, atrevendo-me mesmo a afirmar que estas maiorias absolutas acabam por imitar e legitimar alguns traços de muitas ditaduras.
É também para educar, alertar e consciencializar que algumas vozes devem continuar a fazer-se ouvir. Mas é preciso, de facto, muita coragem quando as armas são desiguais e os recursos não existem.
O papel da comunicação social é insubstituível neste processo. O 4º poder que, em democracia, deve funcionar como um contrapeso equilibrador dos outros três poderes – o legislativo, o executivo e o judiciário. Porque é preciso que o poder freie o poder.
Não deixo de ficar preocupado quando, invariavelmente, chego à conclusão de que as democracias estão fortemente ameaçadas porque a dependência financeira do 4º poder lhes retira, efetivamente, quase todo o poder.
Um 4º poder que serve os restantes poderes não é o poder de que precisamos porque, ao esvaziar-se da sua função, deixa de nos servir a todos. Esta é uma realidade mundial, mas não deixa de o ser a nível nacional e a nível local.
Talvez assim se perceba melhor o estado a que chegámos e se explique parte da falta de motivação e de vontade para que ele seja alterado. Praticamente deixou de haver quem defenda a causa pública porque a regulação que, ética e deontologicamente, deveria ser exigida e norteada, corre o risco de entrar em rota de colisão com o equilíbrio financeiro que garante a continuidade dos conteúdos, mesmo que eles se encontrem vazios de conteúdo.
Por vezes, há que encher de nada para que não haja tempo ou espaço para se falar ou escrever sobre o que incomoda. E, na dúvida, há sempre a oportunidade de legitimar as opções editoriais.
Aprenderam a conviver em bonança, fintando permanente as tempestades, com a execução de malabarismos que permitem equilibrar os equilíbrios quando se exigia que eles fossem desequilibrados.
O meu otimismo acredita na circunstância e repudia a conjuntura. Apesar dos sinais e dos resultados, continuo a querer acreditar na distração. Mesmo depois de confrontado com provas do passado que mostram que há “fabricação de produtos” com o objetivo de manter a convivência saudável e controlável.
O meu otimismo ainda acredita nas pessoas, apesar de acreditar cada vez em menos pessoas. Há aquelas que conheço e em quem ainda deposito a minha esperança, para que recuperem o poder executivo e façam renascer o 4º poder. Pela sua espinha dorsal e pelo resgate da nossa crença na sociedade e nos quatro poderes.
E, se tudo isto falhar, não perco a esperança, porque as pessoas já sabem que Abrantes tem Alternativa!