Polícia portuguesa e espanhola desmantelam rede liderada por cidadão português, com operação de transporte de cocaína que envolvia jatos privados e contentores marítimos.
Uma operação conjunta entre a Polícia Judiciária (PJ) e a Polícia Nacional (PN) de Espanha desmantelou uma rede internacional de tráfico de droga que utilizava o aeroporto de Beja como um dos principais pontos de entrada para carregamentos de cocaína provenientes da América do Sul. Segundo comunicado das autoridades espanholas, a estrutura criminosa era liderada por um cidadão português e contava com o apoio de funcionários corruptos que facilitavam as operações ilícitas.
A rede, apelidada de “Narcos do Céu”, recorria a jatos privados fretados para transportar grandes quantidades de cocaína para a Europa, incluindo o aeroporto de Beja e outros destinos no Reino Unido. Além disso, empregava contentores marítimos para dissimular a droga em cargas comerciais, enviadas para portos espanhóis.
Plano Frustrado no Aeroporto de Beja
Em janeiro de 2024, uma investigação conjunta entre a PJ e a PN identificou a rede e os seus membros. Nesse período, a organização tentou enviar um avião fretado desde Barranquilla, na Colômbia, para Beja, transportando membros da rede e pilotos contratados. No entanto, dificuldades logísticas impediram o carregamento de droga, resultando num prejuízo de mais de 500 mil euros para os traficantes.
Apesar do fracasso inicial, a organização manteve o objetivo de transportar cerca de duas toneladas de cocaína para a Europa. Para financiar as operações após a perda, adotou uma abordagem de menor escala, enviando malas com quantidades reduzidas de droga para aeroportos europeus, incluindo Madrid. Em quatro ocasiões entre setembro de 2023 e setembro de 2024, foram identificados envios que totalizavam 127,5 quilos de cocaína.
Operação Marítima e Redes de Financiamento
Além dos voos privados, a organização utilizava rotas marítimas, como evidenciado pela apreensão de 344 quilos de cocaína dissimulados num contentor carregado de abacates provenientes do Peru, intercetado no porto de Barcelona em maio de 2024.
Para sustentar as operações, a rede utilizava métodos sofisticados de financiamento. Entre as estratégias, destacava-se o uso de criptomoedas para converter lucros ilícitos em moeda legal e a colaboração com empresários chineses que operavam através do sistema informal Hawala, evitando o sistema financeiro convencional.
Investigação Conjunta e Prisões
A investigação, iniciada em junho de 2023 com a colaboração da agência norte-americana DEA, revelou uma estrutura organizada centrada em Madrid. O grupo realizava reuniões num café apelidado de “o escritório”, onde delineava os detalhes das operações.
A operação culminou com a detenção de 25 pessoas em Portugal e Espanha, incluindo o principal líder português, reconhecido internacionalmente como um “High Value Target” no tráfico de estupefacientes. Em Portugal, a Operação Fóssil, conduzida pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ, resultou em seis detenções, nove buscas domiciliárias e a apreensão de bens, como automóveis de luxo, dinheiro, material informático e documentação.
Impacto e Cooperação Internacional
Esta operação, que durou 15 meses, destaca a eficácia da cooperação internacional no combate ao tráfico de droga. O aeroporto de Beja, inicialmente visto como uma instalação discreta para as operações, revelou-se um ponto crítico para a desarticulação desta rede criminosa. A investigação expôs ainda a adaptação das organizações de tráfico às adversidades, recorrendo a financiamentos diversificados e estratégias logísticas inovadoras para manterem a atividade.
As autoridades reforçam o compromisso de continuar a combater redes transnacionais de tráfico, garantindo a segurança e a legalidade no espaço europeu.