A crise política em França intensifica-se com a líder da extrema-direita a pressionar o primeiro-ministro Michel Barnier a aceitar novas exigências.
A tensão em torno da sobrevivência do Governo francês escalou esta sexta-feira, com Marine Le Pen a emitir um ultimato a Michel Barnier. A líder da União Nacional, cujo apoio é vital para o executivo minoritário, deu ao primeiro-ministro até segunda-feira para rever a sua política em dois pontos cruciais: desistir do congelamento da subida das pensões em 2025 e manter os subsídios a determinados medicamentos.
“Aguardo medidas concretas. Tomou algumas decisões, mas não são suficientes”, declarou Le Pen através das redes sociais. A líder da extrema-direita tem explorado a fragilidade política do executivo liderado por Barnier, que depende dos 140 deputados da União Nacional para sobreviver na Assembleia Nacional, dividida em três blocos hostis.
Concessões à extrema-direita agravam isolamento político
Na quinta-feira, Barnier já tinha cedido a algumas exigências da União Nacional, como abandonar o plano para reintroduzir um imposto sobre a eletricidade e reduzir o apoio médico a imigrantes ilegais. Estas decisões alienaram quase por completo os potenciais apoios da esquerda, dificultando a formação de novas alianças parlamentares.
Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda, acusou Barnier de ceder à extrema-direita e declarou que o Governo está “condenado”. Por outro lado, os socialistas recusaram romper com o seu bloco político, apesar das dificuldades financeiras que afetam o país.
Le Pen reforça protagonismo político
A postura de Le Pen reflete a sua estratégia de consolidar o seu partido como uma força política governamental. Ela reivindica como vitórias as concessões de Barnier, que beneficiam tanto o eleitorado da classe trabalhadora – com a promessa de redução nas faturas de eletricidade – como as bases mais conservadoras, que apoiam a redução da ajuda aos imigrantes.
Le Pen sublinha, contudo, que os cortes são insuficientes e defende que a solução passa por reduzir a contribuição da França para a União Europeia e aumentar impostos sobre transações financeiras e compras de ações. “Eles só querem aumentar os impostos ou cortar nas prestações sociais”, afirmou, criticando o orçamento do Governo.
Barnier tenta resistir sem apoio explícito
Apesar da pressão, Barnier recusa ceder totalmente às exigências de Le Pen. O primeiro-ministro pondera invocar um mecanismo constitucional que permita aprovar o orçamento sem votação parlamentar, correndo o risco de enfrentar uma moção de censura.
Numa tentativa de evitar um confronto direto, Barnier manteve um discurso conciliador. “Estamos numa abordagem de respeito e diálogo”, declarou, enquanto prossegue contactos para tentar salvar o executivo.
Entretanto, a rivalidade simbólica entre Barnier e Le Pen adensa-se. A líder da extrema-direita, que chegou às finais das duas últimas eleições presidenciais, criticou a atitude do Governo. “Querem os nossos votos, mas não nos querem nas decisões. Há 40 anos que vejo isto”, disse em entrevista ao Le Monde.
Com a aproximação do prazo estabelecido por Le Pen, o destino do Governo de Barnier permanece incerto. Enquanto a pressão aumenta, a fragilidade política ameaça aprofundar a crise e paralisar a capacidade de decisão em França.