Na sua intervenção no Conselho de Segurança da ONU, o embaixador sírio, Koussay Aldahhak, apelou pela primeira vez ao levantamento imediato das sanções contra a Síria, destacando a urgência da medida, que é amplamente apoiada pela comunidade internacional. Aldahhak, representante do Governo deposto, que permanece em funções até que a situação da Síria na ONU seja resolvida, enfatizou a necessidade de pôr fim à ingerência estrangeira e aos interesses externos prejudiciais ao povo sírio.
A intervenção do diplomata coincidiu com a primeira manifestação oficial do Governo provisório sírio na ONU, liderado por Ahmad al-Charaa, ex-islamista que assumiu a liderança do país após a deposição do Presidente Bashar al-Assad. Aldahhak, que falou em nome do novo regime, afirmou que a Síria já deu passos significativos para preservar as suas instituições e evitar o colapso total do Estado, um cenário que, segundo ele, traria consequências catastróficas semelhantes às que se observaram no pós-Saddam Hussein, no Iraque.
No seu discurso, o embaixador sírio exortou as potências estrangeiras a cessarem a sua interferência no território sírio e fez referência direta a Israel, acusando-o de violar a soberania síria. Aldahhak denunciou as incursões militares israelitas, que têm como alvo várias infraestruturas militares sírias, bem como a expansão da presença israelita nos Montes Golã, território ocupado por Israel desde 1974. O diplomata insistiu que Israel deve cumprir as resoluções da ONU e os compromissos de 1974, respeitando a soberania da Síria.
A questão das sanções também foi abordada com veemência. Aldahhak apelou à remoção imediata das medidas coercitivas, que, segundo ele, têm prejudicado profundamente o povo sírio ao longo dos anos. “A Síria sofreu durante muitos anos. É tempo de respirarmos de alívio e de termos uma vida digna, como qualquer outro povo no mundo”, disse. O diplomata solicitou à ONU e aos seus Estados-membros que removam as sanções e providenciem o financiamento necessário para atender às necessidades humanitárias do país.
Por outro lado, o enviado da ONU para a Síria, Geir Pedersen, alertou para os riscos associados à transição política síria, destacando os perigos que as decisões atuais podem representar para o futuro do país. Pedersen pediu à Síria e à comunidade internacional que trabalhem em conjunto para evitar erros que possam comprometer o processo de reconstrução e unificação da Síria, fragmentada após mais de dez anos de guerra civil.
O novo líder sírio, Ahmad al-Charaa, também se comprometeu a desmantelar as fações armadas no país, incluindo o grupo sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS), responsável pela tomada de Damasco no início de dezembro e pela deposição de Bashar al-Assad. Al-Charaa revelou que a organização de eleições no país poderá demorar até quatro anos e manifestou a sua intenção de promover um diálogo nacional como parte do processo de estabilização.