Na sexta-feira, Donald Trump revelou um passo inesperado na sua postura económica, ao prometer abrir o terreno às moedas digitais, em um esforço para posicionar os Estados Unidos como “pioneiros” das criptomoedas. A declaração foi feita após uma reunião com operadores do setor na Casa Branca, onde Trump sublinhou a grande oportunidade que as moedas digitais representam para o crescimento económico e inovação no sistema financeiro do país. “Sentimo-nos pioneiros”, afirmou, refletindo uma postura agora muito diferente da que tinha durante a sua presidência, quando as criptomoedas eram vista com desconfiança.

A mudança de postura de Trump em relação às criptomoedas é surpreendente, uma vez que, até recentemente, o ex-presidente era um crítico ferrenho do setor. Contudo, em plena campanha eleitoral, Trump já começava a alinhar-se com a crescente onda digital. Ele passou a defender com afinco o ecossistema das moedas digitais, alinhando-se diretamente com os interesses do setor, que, por sua vez, se mostrou generoso no apoio à sua candidatura, com contribuições superiores a 100 mil milhões de dólares.
O apoio de Trump às criptomoedas ganha ainda mais relevância quando se observa o impacto que ele já começou a ter no mercado. Desde que assumiu o cargo, Trump nomeou Paul Atkins, um defensor das moedas digitais, para a liderança da SEC (Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos EUA). Sob a sua gestão, a SEC abandonou processos judiciais contra algumas das maiores plataformas do setor, como a Coinbase e a Kraken, que durante a presidência de Joe Biden enfrentaram severas restrições.
A postura proativa de Trump foi reforçada na quinta-feira à noite, quando assinou um decreto que estabelece uma “reserva estratégica” alimentada por cerca de 200 mil bitcoins apreendidos pela justiça em processos civis e penais. Este novo fundo, estimado em 17,5 mil milhões de dólares, foi comparado a uma versão moderna das reservas de ouro dos EUA, segundo o conselheiro para a Inteligência Artificial e Moedas Digitais, David Sacks. Para Sacks, a iniciativa serve também para proteger o governo das flutuações diárias da cotação da bitcoin, demonstrando uma visão de longo prazo no manejo desse ativo.
Esta reserva de criptomoedas foi saudada por Jacob Phillips, da Lombard Finance, como uma das “mensagens de apoio mais importantes” que a indústria já viu. Para muitos, o gesto de Trump é um claro sinal de que o governo dos EUA pretende fortalecer a sua posição no mercado de ativos digitais, tornando-se uma nação líder nesta área emergente.
O apoio de Trump não se limita a iniciativas governamentais. Na sexta-feira, uma reunião de alto nível com investidores e líderes do setor digital discutiu formas de consolidar a liderança dos EUA no ecossistema das moedas digitais. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, comentou que a estratégia dos EUA será tornar o país o líder mundial na implementação de ativos digitais, acrescentando que será necessário também revogar restrições que foram vistas como entraves ao crescimento do setor.
Porém, o apoio de Trump às criptomoedas não passou sem controvérsias. Críticos sugerem que o ex-presidente está a adotar esta postura por razões financeiras, dado o envolvimento que teve com a plataforma de transações digitais World Liberty Financial e o lançamento da sua própria moeda, a Trump Coin, que teve um desempenho financeiro significativo, embora tenha perdido mais de 80% do seu valor desde o pico de janeiro. De acordo com o Financial Times, a moeda de Trump já gerou 350 milhões de dólares, o que levanta questões sobre possíveis conflitos de interesse.
Com o mercado das criptomoedas já a responder à movimentação de Trump — que, por sua vez, conta com o apoio de uma indústria cada vez mais robusta — o futuro das moedas digitais nos EUA parece agora mais promissor, embora o debate sobre os riscos e benefícios desse apoio continue a polarizar opiniões.