Instituições como o INSA e a Medicago investigam, desde 2012, o potencial do tabaco na produção de medicamentos via engenharia genética em laboratórios e campos experimentais, visando reduzir custos e ampliar o acesso a terapêuticas avançadas globalmente
Apesar de o tabaco ser responsável por ceifar cerca de oito milhões de vidas anualmente, novos estudos sugerem que esta planta pode ter um futuro distinto. Segundo o Dr. Manuel Rodrigues, investigador do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), “o aproveitamento do tabaco para a produção farmacêutica representa uma oportunidade de reorientar uma cultura historicamente associada a danos para um contributo positivo na saúde pública.” Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmam o elevado impacto da sua utilização enquanto produto de consumo nocivo.
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Registos históricos evidenciam que, desde o século XVI, os povos indígenas das Américas utilizavam o tabaco para tratar sintomas como dores de cabeça, resfriados e feridas, através de inalação, ingestão ou aplicação tópica. Posteriormente, na Europa, a planta chegou a ser considerada uma panaceia, chegando inclusive a ser prescrita como “cura” para os efeitos do afogamento, sobretudo na cidade de Londres durante o século XVIII. Investigações do Instituto de História das Ciências de Lisboa corroboram estes factos, demonstrando o percurso do tabaco desde os rituais tradicionais até à sua incorporação no saber médico europeu.
Com o avanço da engenharia genética, a modificação do tabaco permite que a planta seja utilizada como um “bioreactor” natural. A Medicago, empresa canadiana de biotecnologia, conseguiu utilizar o tabaco para produzir mais de dez milhões de doses da vacina contra a gripe num único mês – um feito que, face à capacidade mundial estimada em quarenta milhões de doses mensais, representa um marco inovador. A Sra. Carla Santos, porta-voz da Medicago, afirmou: “A plataforma do tabaco abre novas perspectivas na produção de terapêuticas, sobretudo na obtenção de proteínas complexas como a insulina e vacinas.”
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A produção de medicamentos através de métodos convencionais baseados na tecnologia recombinante, que implica a modificação de células bacterianas, de levedura ou animais, tem um custo estimado nos arredores de dois mil milhões de dólares, o que dificulta o acesso a terapêuticas em países com rendimentos mais baixos. “Esta despesa elevada restringe o acesso a tratamentos essenciais, sobretudo em contextos de menores recursos económicos,” explicou o Dr. Manuel Rodrigues, enfatizando que a utilização do tabaco pode, futuramente, representar uma alternativa mais viável e económica.
Para além dos benefícios farmacêuticos, a reorientação do cultivo do tabaco pode ajudar a mitigar os impactos económicos decorrentes da queda na procura de cigarros. Países de baixa renda, onde o tabaco é tradicionalmente cultivado, poderão beneficiar da transição para uma agricultura molecular, transformando a cultura em fonte de medicamentos e, assim, promovendo o desenvolvimento sustentável. Especialistas recomendam a criação de políticas de apoio à inovação neste sector, de forma a assegurar uma transição justa para os agricultores.
A investigação na área da agricultura molecular está a ganhar terreno e pode inaugurar uma nova era na indústria farmacêutica. Com os progressos alcançados pela Medicago e o apoio de instituições académicas e científicas, projecta-se que, num futuro próximo, a produção de medicamentos a partir do tabaco venha a ser implementada em larga escala. O equilíbrio entre inovação tecnológica e responsabilidade social será, sem dúvida, crucial para o sucesso desta transformação.
Em conclusão, a aposta na engenharia genética aplicada ao tabaco apresenta-se como uma estratégia promissora para reduzir os custos de produção e melhorar o acesso a terapêuticas avançadas. O desenvolvimento de novas pesquisas e a colaboração entre instituições, como o INSA e empresas inovadoras como a Medicago, serão determinantes para consolidar esta alternativa na produção farmacêutica global, com benefícios esperados para a saúde pública e a economia dos países produtores.